sábado, 24 de outubro de 2015

O fim do Cerrado e os rios que secam


Li a longa entrevista do professor Altair Sales Barbosa no Jornal Opção, edição 2048, publicada em 24/10/2015, onde ele faz a seguinte declaração: “O Cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água.”

 Todo Goiano, todo Tocantinense e todo Mineiro deveria, no meu entender, ler com atenção essa entrevista. Melhor dizendo, todo brasileiro interessado em um mundo mais naturalmente equilibrado deveria reservar um tempo para ler com atenção essa entrevista.
Conhecer a gênese do Cerrado, desse bioma tão importante, é fundamental para se construir uma consciência de “saber cuidar” desse singular patrimônio natural do Brasil.

Nessa entrevista a qual me refiro, o Professor Altair Sales Barbosa não apresenta apenas informações sobre “o que é o Cerrado”. Ele vai além, e nos dá um alerta sobre os riscos que as gerações futuras estão correndo em função do uso descontrolado que está sendo feito do espaço onde o cerrado se desenvolve.

A morte do Cerrado não significa apenas a dizimação da vida silvestre e a destruição de uma flora que levou mais de 60 milhões de anos para se desenvolver. A morte do Cerrado vai levar à desertificação de boa parte do Centro-Oeste brasileiro. Ela vai representar um decreto de morte para os rios e aquíferos que hoje compõem as Bacias Hidrográficas da parte central do Brasil.

No início da entrevista o professor Altair chama a atenção para o fato de que o cerrado é um bioma tão sensível que “uma vez degradado não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade. Por isso é que falamos que o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção.”

Mais à frente, o professor Altair complementa, dizendo:

 “Como se não bastasse tudo isso, o Cerrado foi incluído na política de ex­pansão econômica brasileira co­mo fronteira de expansão. É uma á­rea fácil de trabalhar, em um planalto, sem grandes modificações geomorfológicas e com estações bem definidas. Junte-se a isso toda a tecnologia que hoje há para correção do solo. É possível tirar a acidez do solo utilizando o calcário; aumentar a fertilidade, usando adubos. Com isso, altera-se a qualidade do solo, mas se afetam os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.” 

E ao falar dos impactos dessa ocupação desordenada do Cerrado, o professor Altair nos revela o que de pior está acontecendo hoje, diante dos nossos olhos:

 “Em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Assim, o rio que forma a bacia também vê seu volume diminuindo, já que não é abastecido de forma suficiente. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado. A água, então, é outro elemento importante do bioma que vai se extinguindo."


"Hoje, usa-se ainda a agricultura irrigada porque há uma pequena reserva nos aquíferos. Mas, daqui a cinco anos, não haverá mais essa pequena reserva. Estamos colhendo os frutos da ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado a partir dos anos 1970: entraram nas áreas de recarga dos aquíferos e, quando vêm as chuvas, as águas não conseguem infiltrar como antes e, como consequência, o nível desses aquíferos vai caindo a cada ano. Vai chegar um tempo, não muito distante, em que não haverá mais água para alimentar os rios. Então, esses rios vão desaparecer."

Atentem que tais afirmativas não são feitas por alguém desinformado. São palavras de um pesquisador renomado, que estuda o “bioma Cerrado” há várias décadas.

Poderia me estender mais, abordando outros temas críticos que são discutidos na entrevista. Em artigos futuros voltaremos ao tema.

Mas fica o alerta. Esse é uma assunto que merece ser melhor debatido e que a população precisa tomar conhecimento. Morrendo o Cerrado, secam os rios e se exaurem os lençóis de água subterrânea!!!

Obs:

(1) O professor Altair Sales Barbosa e idealizador e implementador do “Memorial do Cerrado”, que foi eleito em 2008 como o local mais bonito de Goiânia. Este é um dos projetos do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), dirigido pelo professor.

(2) Fonte da matéria: http://www.jornalopcao.com.br/entrevistas/o-cerrado-esta-extinto-e-isso-leva-ao-fim-dos-rios-e-dos-reservatorios-de-agua-16970/

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A seca na Região Metropolitana de São Paulo



Com a falta d’água na Região Metropolitana de São Paulo novos hábitos estão sendo incorporados à rotina de muitos paulistanos. Particularmente daqueles que moram na periferia, nos bairros mais pobres.


Existe um quadro de seca em muitas regiões da Grande São Paulo. Um quadro similar àquele que acontece no Nordeste do Brasil, onde com certa regularidade falta água para atender às necessidades básicas das famílias. 


No Nordeste, é muito comum a figura da “lata d’água na cabeça”, já que para muitos é o único recurso para se colocar água nas residências. Na região metropolitana de São Paulo, está virando lugar comum as pessoas lançarem mão de “latas”, “panelas” e “garrafões” para buscar água e abastecer as residências, principalmente nas áreas de periferia.


Outro hábito que está sendo incorporado entre os paulistanos, muito comum na Região Nordeste, é o recolhimento de água da chuva, nas biqueiras das casas, para atendimento das necessidades domésticas. Um exemplo disso é a declaração da aposentada Maria de Souza Rosa, moradora do Jardim Damasceno, ao dizer: "Quando eu vejo chuva, eu falo para as minhas amigas, graças a Deus vai chover para eu poder recolher bastante água".


Mesmo com a Companhia de Águas de São Paulo (SABESP) afirmando que não existe racionamento de água na Grande São Paulo, é sabido que o racionamento já é uma realidade. Como sempre, esse racionamento atinge de modo mais significativo a população menos favorecida, que vivencia a realidade do “estresse hídrico” há mais de dois anos.


Diante desse quadro de incertezas quanto às soluções para o problema de água na maior cidade brasileira, os cidadãos paulistanos devem estar preparados para o “cenário mais crítico”, onde a palavra de ordem é “desperdício zero”. 


De fato, muitos paulistanos terão de aprender mais uma vez com a cultura nordestina. Desta vez, com a cultura da seca, na qual cada gota de água vale ouro. Aí não estamos falando da cultura do conforto, mas sim da cultura da sobrevivência. Quem já vivenciou a seca do nordeste sabe muito bem quanto vale um copo d’água. Em muitas situações pode significar a diferença entre a vida e a morte.

sábado, 17 de outubro de 2015

Água: o quanto estamos despreparados para a mudança climática?


Todos os centros de pesquisa que trabalham com meteorologia reconhecem que o planeta está passando por um momento de mudança climática. Os registros históricos e paleontológicos demonstram que a cada grande mudança climática se verifica uma redistribuição da “água doce” na superfície do planeta. Isso significa dizer que regiões outrora úmidas podem passar a apresentar um clima seco e vice-versa. 


Se essa mudança de clima já é reconhecida, como estamos nos preparando para ela? Que ações estão sendo tomadas nas diferentes esferas (municipal, estadual e federal) para enfrentarmos esse problema?

Como está sendo trabalhada a questão da “Segurança Hídrica” nas grandes metrópoles brasileiras? Quem está tratando da garantia de disponibilidade de água nos grandes centros industriais e agrícolas do país?

Os problemas enfrentados, por exemplo, pela região metropolitana de São Paulo representam o sinal mais claro de que medidas estruturantes precisam ser tomadas, com visão de longo prazo, para garantir a disponibilidade de água não apenas para a população, mas também para manterem o comércio e a indústria ativos.

No Nordeste brasileiro, por sua vez, se verifica a ampliação da área de desertificação, agravando um problema de falta d’água que é secular. Mesmo na faixa costeira da Região Nordeste, historicamente mais úmida, já existe problema de “estresse hídrico”, particularmente nas regiões metropolitanas (Fortaleza, Recife, Natal e Salvador). O baixo nível das águas na Barragem de Sobradinho é outro exemplo contundente da mudança climática que já acontece.

Considerando que a tendência dessa mudança climática é conhecida, é possível definir estratégias e implementar ações que permitam manter o equilíbrio no abastecimento de água para os Sistemas Urbanos e as Regiões Agrícolas e Industriais. Cabendo a ressalva de que, por envolverem obras de grande porte, esses programas estruturantes devem ser pensados com a antecedência adequada, para permitir que a implementação das ações sejam efetivadas no tempo adequado. 

Até onde sabemos, não existe nenhuma ação estruturada, de caráter multidisciplinar, com foco na adequação dos recursos hídricos das regiões produtivas e mais habitadas do país, tomando por base a questão da mudança climática que estamos vivenciando. O que temos visto são ações corretivas ou emergenciais, que visam “apagar incêndios” pela nossa falta de planejamento.

domingo, 4 de outubro de 2015

Água mineral: cuidado com as escolhas


Toda água mineral comercializada e produzida no Brasil deve conter no seu rótulo a composição dos seus macro-elementos e também o seu pH (potencial hidrogeniônico), além da especificação da fonte onde essa água é captada.

No meu convívio diário, seja em casa ou no trabalho, observo que a maioria das pessoas não prestam atenção na composição ou no pH da água mineral que consomem.

A qualidade da água é determinada pela quantidade e pela qualidade dos minerais que ela contém. Essa quantidade e qualidade dos sais minerais dissolvidos na água vai depender do tipo de terreno e do “tempo de residência” das águas nos aquíferos onde as mesmas ficam naturalmente armazenadas.

Para a nutricionista e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Gilberti Hubscher, é recomendável que se considere os seguintes aspectos, quando da escolha de uma água mineral: “o sódio deve ser o primeiro fator a ser analisado, mas o ideal é buscar um equilíbrio entre um bom pH, uma quantidade pequena de sódio e bons níveis de outros minerais importantes para a saúde, como o potássio e o magnésio.”

Os médicos e nutricionistas alertam que “o excesso de sódio na alimentação causa retenção de líquidos, o que leva ao aumento da pressão arterial”. Essa recomendação é dirigida principalmente para “as pessoas que sofrem com hipertensão, problemas cardiovasculares e renais, que são potencializados com o alto consumo desse elemento”.

Porém, a qualidade da água não depende apenas da quantidade de sódio que ela contém. Outro fator importante que deve ser considerado é o “índice de pH”, tecnicamente conhecido como "potencial hidrogeniônico". Esse índice mede o grau de acidez da água. A American Public Health Association recomenda que a água utilizada para consumo humano tenha um pH que varie de 7 a 10. Isso significa dizer que devemos consumir preferencialmente águas neutras ou alcalinas.

Interessante artigo publicado pelo jornal Zero Hora Digital, em 15/08/2014, apresenta o resultado de uma análise comparativa de dez marcas de água mineral comercializadas no Brasil. Cabe observar como é grande a variação composicional dessas águas e também como varia o potencial hidrogeniônico (pH). Em termos de concentração de sódio “se verifica uma variação de 3,086mg/l até 103,86mg/l, o que representa uma diferença de mais de 3.000%. Quanto ao pH a variação também é grande: de 5,45 (água ácida) até 9,58 (água alcalina).”

Segue abaixo a transcrição das informações contidas nos rótulos das águas minerais analisadas, segundo o artigo referenciado.

PUREZA VITAL (mg/l)
Sódio — 3,086
Bicabornato — 137,14
Cálcio — 24,20
Magnésio — 14,22
Cloreto — 9,84
Potássio — 3,08
Nitrato — 2,44
Sulfato — 1,14
Fluoreto — 0,09
pH — 7,44

VERSANT (mg/l)
Sódio — 14,59
Bicabornato — 46,23
Cálcio — 3,03
Magnésio — 2,20
Cloreto — 4,70
Potássio — 1,09
Fluoreto — 0,97
Lítio — 0,011
Vanádio — 0,02
pH — 6,66

FLORESTA (mg/l)
Sódio — 16
Cálcio — 41,06
Magnésio — 1,21
Potássio — 4,00
Sulfato — 7,20
Bicarbonato — 155,73
Fluoreto — 0,12
Nitrato — 5,80
Cloreto — 5,16
pH — 7,0

ÁGUA DA PEDRA (mg/l)
Sódio — 23,02
Cálcio — 25,18
Potássio — 1,09
Fluoreto — 0,11
Bicarbonato — 122,83
Silício — 30,17
Magnésio — 4,44
Cloreto — 8,47
Zinco — 0,02
pH — 7,2

SÃO LOURENÇO (mg/l)
Sódio — 30,17
Bicarbonato — 258,88
Potássio — 30,52
Cálcio — 26,49
Magnésio — 11,21
Sulfato — 2,42
Cloreto — 1,38
Nitrato — 0,91
Bário — 0,35
Fluoreto — 0,11
pH — 5,45

PERRIER (mg/l)
Sódio — 9,5
Bicarbonato — 430
Cálcio — 160
Cloro — 22 / ou cloreto
Potássio — 1
Magnésio — 4,2
Nitrato — 7,8
Sulfato — 33
pH — 5,5

SARANDI (mg/l)
Sódio — 71,00
Bário — 0,01
Cálcio — 2,00
Potássio — 6,00
Carbonato — 21,54
Bicarbonato — 89,01
Fluoreto — 1,19
Cloreto — 0,83
Sulfato — 51,86
pH — 9,35

CRYSTAL (mg/l)
Sódio — 103,60
Bicarbonato — 71,56
Cálcio — 0,308
Cloreto — 1,47
Fluoreto — 1,06
Magnésio — 0,043
Potássio — 0,213
Sódio — 103,60
Vanádio — 0,103
pH — 9,58

PURIS (mg/l)
Sódio — 3,993
Bário — 0,012
Cálcio — 25,140
Magnésio — 7,053
Potássio — 2,392
Nitrito — 0,005
Nitrato — 0,090
Fluoreto — 0,070
Cloreto — 0,080
Fosfato — 0,200
Bicarbonato — 124,41
pH — 6,98

CHARRUA (mg/l)
Sódio — 20,90
Cálcio — 9,63
Magnésio — 4,65
Potássio — 3,27
Sulfato — 2,3
Bicarbonato — 37,73
Fluoreto — 0,39
Nitrato — 34,10
Cloreto — 21,86
Silício — 16,14
pH — 5,83

Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2013/12/saiba-como-escolher-a-agua-mineral-mais-saudavel-4375561.html