quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Água : da indiferença e suas conseqüências

O brasileiro contemporâneo foi vitimado por um vírus perigosíssimo, desses que podem levar ao comprometimento de toda uma geração. Estamos contaminados pelo vírus da indiferença. Cultivado e plantado nas nossas mentes durante a década de setenta do século XX, como rescaldo cultural do período de repressão vivenciado por nós, e alimentado pela filosofia neoliberal atualmente em voga, que prega abertamente o individualismo como forma de preservação da espécie, esse vírus traz conseqüências desastrosas para todas as áreas (social, econômica, ambiental).
Na área social, verificamos o agravamento das questões relacionadas com a segregação, resultado de uma distribuição de renda desigual e injusta. Na área econômica, a especulação financeira é quem comanda os destinos da nação, deixando míngua aqueles que desejam produzir. Na área ambiental, ocorrem, diariamente, crimes contra nossos mais ricos patrimônios naturais, e a indiferença, irmã gêmea da omissão, que domina a maior parte da população, contribui para que os mesmos não sejam coibidos. Que crimes são esses? Como o espaço é exíguo, relacionamos apenas aqueles mais conhecidos: a) a quase totalidade do esgoto doméstico recolhido na nossa cidade é jogada, sem nenhum tipo de tratamento, nas águas do Rio Potengi; b) continuam os desmatamentos descontrolados e a ocupação desordenada nas margens do Rio Pitimbu, contribuindo para a sua degradação; c) os manguezais do nosso litoral continuam sendo dizimados, apesar das denúncias feitas pelos ambientalistas; d) avança a degradação dos mananciais de água subterrânea, na área metropolitana de Natal, mesmo tendo-se conhecimento das suas causas.
Não podemos ficar indiferentes a tais fatos, ou seremos cúmplices desses atos de vandalismo contra a saúde da nossa cidade. No dia internacional da água potável, gostaríamos de fazer um convite para todos os natalenses. Que tal tentarmos responder ao seguinte questionamento: Estou fazendo alguma coisa de concreto para evitar a degradação dos nossos recursos hídricos (rios, lagoas, água subterrânea)? Se a resposta for negativa, não desanime, pois ainda existe muito que se fazer nessa área. Vacine-se contra o vírus da indiferença e contribua para a melhoria da qualidade de vida no nosso planeta.

Retirado do livro "Pedagogia da Água - Sobre o papel do cidadão
na preservação dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)

domingo, 16 de novembro de 2008

Quanto custa um copo d'água?

Para nós que dispomos de recursos e que consumimos água mineral cotidianamente a resposta é aparentemente simples: - Um copo d'água custa, nos supermercados e nos bares, algo entre vinte e cinqüenta centavos. Um valor aparentemente baixo, para o consumidor desatento, se considerarmos a questão pontualmente. E aí somos levados a refletir sobre o valor real da água. De uma maneira geral, o brasileiro que habita os centros urbanos nunca se preocupou seriamente com a economia de água. Fomos criados com a idéia de que água é um recurso infinito e de baixo valor. Daí a cultura do desperdício.
Hoje, quando a questão da disponibilização de água potável nos grandes centros urbanos está cada vez mais crítica, nos vemos diante de uma situação difícil de ser imaginada poucos anos atrás, qual seja, de aumento do custo da água em função da sua escassez. Estamos preparados para enfrentar essa dura realidade? Se compararmos a nossa situação com países europeus, onde a água é um produto bastante escasso, a perspectiva é de termos as nossas contas de água aumentadas em até 500%. Com a aprovação da lei federal 9.433, em 1977, que visa regulamentar o setor, o país está se preparando para valorar os seus recursos hídricos, passando a cobrar pelo seu uso. Cabe ressaltar que atualmente nós só pagamos às distribuidoras de água pela coleta, tratamento e distribuição da água que sai nas nossas torneiras. Num futuro próximo, estaremos pagando também pela retirada da água dos mananciais superficiais e subterrâneos. Será que seguiremos desperdiçando água como fazemos atualmente?
Falar de valoração da água pode soar estranho para muitas pessoas, especialmente para aqueles que foram criados na abastança. Talvez devêssemos dar mais atenção para a luta dos nossos irmãos que vivem no sertão nordestino, eles sim têm a noção clara do valor da água. Para os flagelados da seca, água não é sinônimo de produto de baixo valor, para eles é uma questão de vida ou morte. Em situações limites, quanto vale um copo d'água? Devemos reconhecer que no dia-a-dia conversamos muito pouco sobre este assunto. Quantas vezes já tivemos a oportunidade de discutir isso com os nossos filhos? Com que freqüência esse tema é debatido nas escolas? Qual o grau de envolvimento da mídia com respeito à necessidade de mudar os hábitos da população para melhor uso fazer desse bem tão precioso? Permita-nos abrir um parêntese com respeito a esse ponto: Em setembro de 2000, encaminhamos para todas a televisões de Natal (Cabugi, Ponta Negra, Tropical e Potengi) a seguinte proposta: "Incluir na pauta dos Jornais Diários um espaço reservado para a ÁGUA, da mesma forma que existe um espaço para as informações meteorológicas". Esse espaço nos Jornais Diários poderia ser de 30 segundos, de forma a não comprometer a programação jornalística existente. Não recebemos resposta de nenhuma delas. De fato, quando aprofundamos essa questão, concluímos que muita coisa ainda precisa ser feita para enfrentarmos o problema da escassez de água nos centros urbanos. Talvez, quando estivermos pagando algo em torno de dez dólares por cada mil litros de água disponibilizados para as nossas casas, como já ocorre na Alemanha, passemos a ter uma idéia mais clara do valor da água.

Retirado do livro "Pedagogia da Água: Sobre o papel do cidadão
na preservação dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)