sábado, 25 de outubro de 2014

Falta d’água em São Paulo: a grande catástrofe

Primeiro foram sentidos os incômodos da falta d’água ocasional. Água que faltava algumas horas durante o dia. Depois foram percebidas as dificuldades de manter os hábitos de higiene em um cenário de falta d’água mais freqüente - dia sim, dia não. Chegar em casa e encontrar a família irritada porque estava faltando água para tomar banho ou mesmo ter de tomar banho com um balde de água colocado no canto do banheiro. Passaram-se os dias, semanas, meses e o quadro não se alterava: mais água que faltava, mais gente insatisfeita.
De repente me dou conta que na academia que freqüento não posso mais usar o bebedouro porque o prédio está sem água. Vou ao restaurante e me deparo com um aviso na porta do toilet, onde está escrito: desculpe pelo transtorno, fechado por falta d’água. Chego no barzinho com um grupo de amigos e sou logo avisado de que as portas serão fechadas às onze horas da noite porque o estabelecimento está com problemas de falta d’água.
 
Como não tenho água suficiente para lavar as minhas roupas em casa, como sempre fiz, só me resta a opção de levá-las para a lavanderia do bairro. Ao adentrar o recinto sou logo avisado de que a lavanderia está operando com dificuldades e que só pode receber cinco quilos de roupa de cada cliente. Escuto um cliente exaltado dizer: “Isso é um absurdo! Onde estão os meus direitos de consumidor? Vou reclamar no PROCON!” Das quatro sacolas que havia levado para a lavanderia, três retornam comigo para casa.
Passo na frente da banca de revistas e vejo estampado na primeira página do jornal: “Falta água no Hospital Municipal – Crise da água já está prejudicando o atendimento dos pacientes e as cirurgias estão comprometidas.” 
O mundo à minha volta parece se desmoronar. Os serviços básicos deixam de funcionar adequadamente. A creche onde deixo o meu filho caçula já mandou um aviso de que só tem condições de funcionar dois dias na semana. A escola dos meus filhos maiores mandou uma circular informando que as aulas estão suspensas até que eles resolvam o problema da falta d’água. Nos últimos dois meses a escola estava recebendo água de caminhões pipas, mas a direção já havia comunicado que os custos dessa água estavam muito elevados.
Ao chegar em casa, vejo na televisão a notícia de que o corpo de bombeiros está impossibilitado de combater o incêndio de um prédio comercial, no centro da cidade, porque falta água nos hidrantes. Mudo de canal e sou surpreendido com a notícia de que a polícia está tentando evitar a depredação de uma distribuidora de água mineral, por um grupo exaltado de moradores do bairro Jardins.
Resolvo ir ao supermercado fazer a compra da semana e percebo que os produtos estão minguando das prateleiras, especialmente as frutas e verduras,  e que os preços dos gêneros alimentícios aumentaram significativamente. Busco uma explicação com o gerente e ele me responde sem meias palavras: “É a falta d’água. Os produtores alegam que todo o sistema produtivo está comprometido em função da falta de água. Até as indústrias já estão tendo problemas.” Compro o que é essencial e retorno para casa.
Volto cabisbaixo para casa e logo me recolho para dormir. Antes de adormecer, reflito: - Quem sabe a água volte amanhã?

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

São Paulo: chuva que não chega

Já são quase 14 milhões de paulistanos sem água e a crise hídrica na região metropolitana de São Paulo se agiganta.
 
Os especialistas sabem e os estudos demonstram que a solução para a falta de água na maior metrópole brasileira não é imediata. Nos próximos meses os mananciais serão mais demandados, mantendo a tendência de redução dos volumes armazenados. E os impactos da escassez de água vão continuar refletindo negativamente na qualidade de vida do cidadão paulistano. 
 
O governo tenta iludir a população, afirmando que a situação está sob controle. Na realidade, o sistema de abastecimento de água da cidade de São Paulo já entrou em colapso. A situação é mesmo muito crítica. Para complicar mais ainda a situação, algumas cidades do interior já declararam estado de emergência em função da falta d'água.
 
Enquanto isso, são registrados atos de desperdício que revelam o quanto precisa ser feito para alterar hábitos antigos, que só agravam a situação. Em alguns bairros da cidade, onde a água ainda está chegando com certa regularidade, são observadas pessoas varendo calçadas com a famigerada "vassoura d'água" e carros são vistos sendo lavados nas portas de algumas casas com a mangueira aberta. Nas famílias mais abastadas, o banho demorado continua inalterado e um grande contingente de jovens ainda permanece sem a mínima noção do que significa fazer uso racional da água, com a falsa ideia de que a água é um recurso infinito.
 
Como a crise está longe de ser ultrapassada, a cidade precisa aprender uma nova lição: como manter a qualidade de vida com pouca água. Uma tarefa difícil para quem sempre viveu na abastança.
 
Na outra ponta da linha, os administradores públicos estão tomando consciência de que não se pode tratar as questões de abastecimento de água com amadorismo, sem levar em conta os alertas dados pelos especialistas que estudam o tema. E que a segurança hídrica de um contingente populacional como São Paulo deve ser colocado em primeiro plano.
 
Na situação atual, parece que só resta ao cidadão paulistano rezar para São Pedro ou se reunir com os vizinhos para fazerem a dança da chuva. Se as preces e as danças funcionarem, o problema da falta d'água deverá estar solucionado no prazo de dois ou três anos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Água que acaba, povo que sofre

Onde falta água reina o sofrimento. É assim em todos os recantos do planeta.

A falta d’água nos torna iguais, nos torna mendigadores de um precioso gole de água.

A falta d’água abre ferida nos relacionamentos, atingindo de forma mais contundente os egoístas e arrogantes.

Onde falta água o equilíbrio entre o racional e o irracional é uma tênue linha que pode se desfazer a qualquer momento.

Para os sofridos, aqueles criados sob o rigor da seca, a falta d’água é um exercício de submissão ao imponderável da existência.

Para os abastados, aqueles que foram criados em meio à abundância de recursos, a falta d’água é motivo de revolta tresloucada, de convulsão e destempero.

Onde falta água prevalece a fome, e a morte arrasta as suas correntes pelos campos, pelas ruas, pelas casas, num convite contínuo ao desfalecimento.
Onde a água é pouca a alegria inexiste e a esperança se resume a uma palavra: chuva.

sábado, 4 de outubro de 2014

Reuso da água: um conceito pouco conhecido, uma opção pouco aproveitada

Segundo o professor de engenharia hidráulica da USP, Ivanildo Hespanhol, o Brasil deveria utilizar mais intensivamente as tecnologias de tratamento de esgoto visando o reuso da água.

Em algumas cidades brasileiras o esgoto tratado produz uma água que pode ser utilizada para uso industrial, irrigação e limpeza urbana. Porém, é possível melhorar esse tratamento de modo a possibilitar a produção de água potável.
Algumas cidades dos Estados Unidos, França, Alemanha e Bélgica dispõem de Sistemas de Tratamento de esgoto que possibilitam a produção de água potável.

Considerando a crise da água em algumas Regiões Metropolitanas do Brasil, é pertinente colocar na pauta dos planejamentos urbanos o tema do “reuso da água”.

Além dos aspectos técnicos envolvidos com a questão, é muito importante que a população, melhor dizendo, que os potenciais usuários dessa água de reuso sejam esclarecidos, no sentido de atuarem como agentes colaborativos nas ações de busca do aumento dos recursos hídricos para atendimento das demandas nos grandes centros urbanos.
Segundo o professor Ivanildo Hespanhol, “A tecnologia do reuso já é avançada o suficiente para produzir água limpa e segura para beber. Há parâmetros para controlar sua qualidade, que pode superar a da qualidade das águas recuperadas nos rios”, conforme matéria publicada no portal UOL, em 21/09/2014.

As principais etapas que envolvem o processo de tratamento de esgoto visando a produção de água potável são as seguintes: filtração; tratamento físico-químico e desinfecção.
O reuso da água é sim uma opção a ser considerada no planejamento urbano, com foco no uso racional dos recursos hídricos.