quinta-feira, 29 de abril de 2021

Água: desperdício na distribuição

O tema DESPERDÍCIO DE ÁGUA desperta muito interesse, porém a sua discussão costuma ser pouco aprofundada.

Existe desperdício de água nas residências, no chamado "uso doméstico" da água. Existe desperdício na agricultura, principalmente nos projetos de irrigação. Existe desperdício na pecuária, principalmente com a dessedentação animal. Existe desperdício de água na indústria. E existe o desperdício de água na rede de distribuição de água para a população, feita pelas companhias de águas e esgotos espalhadas pelo Brasil.
É desse desperdício que iremos falar. De um grau de desperdício que se mostra assustador e de difícil solução. Esse é o retrato atual desse grave problema envolvendo a distribuição de água potável para a população.
O Ministério do Desenvolvimento Regional, através da Secretaria Nacional de Saneamento (SNS), publicou em Dezembro de 2020 o "25º Diagnóstico de Serviços de Água e Esgoto" referente ao ano de 2019. Esse diagnóstico toma por base os dados coletados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Apresentamos a seguir alguns números retirados desse diagnóstico:
- Para o serviço de abastecimento de água, são representados 5.191 municípios, com população urbana residente de 174,7 milhões de habitantes, assegurando uma representatividade de 93,2% em relação ao total de municípios e de 98,2% em relação à população urbana do Brasil.
- Para esgotamento sanitário, em 2019, a quantidade de municípios foi de 4.226 e a população urbana residente de 165,4 milhões de habitantes, uma representatividade de 75,9% em relação ao total de municípios e de 92,9% em relação à população urbana do Brasil.
- Os municípios brasileiros, cujos dados estão presentes no SNIS em 2019, possuem 680,4 mil quilômetros de redes de abastecimento água, às quais estão conectados 59,1 milhões de ligações de água.
- O consumo médio de água no país, em 2019, foi de 153,9 litros por habitante ao dia, uma redução de 0,6% em comparação a 2018. Em 2019, os consumos variam regionalmente de 120,6 l/hab/dia no Nordeste a 177,4 l/hab/dia no Sudeste.
- O porte dos serviços de água e esgotos na economia pode ser medido pela movimentação financeira de aproximadamente R$ 150,0 bilhões em 2019, referente a investimentos que totalizaram cerca de R$ 15,7 bilhões, mais receitas operacionais de R$ 71,9 bilhões e despesas de R$ 62,4 bilhões.
- As perdas dos Sistemas de Distribuição de água para a população na média nacional alcançaram em 2019 o valor de 39,2%. Isso representa um desperdício significativo de água tratada que sequer chega às residências. Na maioria das vezes, essas perdas estão relacionadas com vazamentos nas tubulações do Sistema de Distribuição.
- Em termos regionais, o percentual de perdas é o seguinte: Norte: 55,2%; Nordeste: 45,7%; Sudeste: 36,1%; Sul: 37,5% e Centro Oeste: 34,4%
- Cabe ressaltar que, dentre os estados do Nordeste, o Rio Grande do Norte apresenta o segundo maior índice de perdas (51,2%), ficando à frente apenas do Maranhão (59,5%).
- Os índices alcançados pelos estados do Nordeste foram os seguintes: Bahia (40,2%); Sergipe (43,6%); Alagoas (29,8%); Pernambuco (50,1%); Paraíba (38,8%); Rio Grande do Norte (51,2%); Ceará (43,0%); Piauí (48,4%) e Maranhão (59,5%).
- A análise dos resultados, segundo os prestadores de serviços de abrangência regional, permite observar que em 2019 apenas dois prestadores apresentam índices de perdas inferiores a 30% (CASAL/AL, 26,6% e SANEAGO/GO, 28,6%).
- Outros 11 prestadores apresentam índices superiores a 30% e inferiores a 40% (CAESB, 32,1%; SABESP/SP, 33,8%; SANEPAR/PR, 34,3%; SANEATINS/TO, 34,9%; CEDAE/RJ, 37,9%. COPANOR, 37,9%; CESAN/ES, 38,4%; CAGEPA/PB, 39,0%; CASAN/SC, 39,8%; e COPASA/MG, 39,9%).
- Na faixa entre 40 e 50% encontram-se: SANESUL/MS, 40,9%; EMBASA/BA, 41,3%; COSANPA/PA, 42,4%; DESO/SE, 43,0%; CORSAN/RS, 43,3%; CAGECE/CE, 45,6%; AGESPISA/PI, 49,9% e COMPESA/PE, 50,0%).
- Outros oito prestadores de abrangência regional apresentam índices superiores a 50%: CAERN/RN, 52,2%; ATS/TO, 54,6%; DEPASA/AC, 60,7%; CAEMA/MA, 64,9%; CAER/RR, 65,4%; CAERD/RO, 72,0%; CAESA/AP, 73,6%; e COSAMA/AM, 74,9%.
Considerando que a quase totalidade das Empresas Distribuidoras trabalham com perdas superiores a 30%, imaginem o volume de água tratada desperdiçada ao longo do ano.
Eu que resido no estado do Rio Grande do Norte fiquei chocado com o nível de desperdício da Companhia de Águas e Esgotos do RN (CAERN) que alcança a marca de 52,2%. O que significa dizer que mais da metade do volume de água tratada distribuída para a população é perdida antes de chegar na casa dos potiguares. Uma lástima, do ponto de vista ambiental e de negócio.
Uma pergunta final: Você já viu essa questão do desperdício de água pelas Empresas Distribuidoras sendo debatida no seu estado?

Fonte: 25º Diagnóstico de Serviços de Água e Esgoto - 2019, publicado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em dezembro de 2020.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Da mão do homem para os rios, dos rios para os mares – Como conter a poluição por plásticos?

 A poluição dos rios e mares com material plástico é um problema ainda muito mal resolvido. Melhor seria dizer: um problema ainda não resolvido!

E quando falamos nesse grave problema ambiental, já sabemos de antemão onde está a sua raiz. Todos sabemos, está no ser humano. Está no dono de indústrias que descartam de modo inadequado o seu lixo plástico; está nos administradores públicos que não implementam sistemas de coleta, tratamento e descarte adequado dos plásticos gerados e utilizados nos centros urbanos; está nos legisladores que não trabalham proativamente para a implementação de leis que coíbam efetivamente o descarte inadequado de plásticos nos corpos d’água (riachos, rios, lagoas, oceanos); está no turista irresponsável que não respeita o meio ambiente; e está no cidadão desinformado que, por pura comodidade, descarta o seu lixo doméstico e seus plásticos em locais impróprios.

Como resultado dessa postura irresponsável, a quase totalidade dos rios que passam por centros urbanos e os oceanos estão literalmente “encharcados” de plásticos. Nos dois hemisférios do planeta, nos países ricos e pobres, o problema se repete: os resíduos plásticos poluem quase todos os mananciais água da nossa combalida Terra.

Apesar das várias iniciativas voltadas para a despoluição de alguns corpos d’água, falta uma Ação Global de coleta, tratamento e destinação final adequada do lixo plástico.

Em ação já iniciada, o Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) iniciou um projeto, com apoio técnico do Google para combater a poluição por plásticos, usando a ciência cidadã e as tecnologias de “machine learning”.

Essa parceria está começando com a análise de resíduos no rio Mekong, na Tailândia, um dos rios mais poluídos do mundo. Segundo artigo publicado na ONU News, “a ação de computadores deve ajudar a criar um novo modelo para uma visão mais clara e precisa sobre a poluição plástica no rio Mekong”. Em termos objetivos, pretende-se identificar os locais de descarte de material plásticos, através de “dados geoespaciais”.

Os resultados desses levantamentos, com o georreferenciamento dos locais de descarte, poderão ser usados por governos em níveis local e nacional para determinar o rumo das políticas e os recursos para evitar a poluição dos rios por resíduos plásticos.

Vale ressaltar que não basta a implementação de alternativas técnicas para a solução do problema. É necessário para a efetividade de qualquer iniciativa de despoluição o envolvimento de todos os segmentos econômicos e sociais. Somente com a ação conjunta de todos é que alcançaremos um resultado positivo e definitivo.