segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Qualidade da água vs Qualidade de vida

A qualidade de vida não se restringe às condições econômicas de uma pessoa, família ou comunidade.

A qualidade de vida não se resume às facilidades tecnológicas que uma pessoa pode ter acesso.

A qualidade de vida não é medida pela capacidade de compra de uma determinada pessoa.

A qualidade de vida começa nas condições de atendimento das nossas “Necessidades Higiênicas”.

O que são “Necessidades Higiênicas”?

Também conhecidas como “Necessidades Fisiológicas”, constituem o nível mais baixo de todas as necessidades humanas, mas de vital importância. Compreende, pois, às necessidades de alimentação (fome e sede), de sono e repouso (cansaço) e de abrigo (frio e calor), dentre outras. Essas necessidades estão relacionadas com a sobrevivência e com a preservação da espécie.

Quando alguma destas necessidades está insatisfeita (como por exemplo, a fome), o ser humano não pensa em outra coisa.

A necessidade de matar a sede, por exemplo, tem ação direta sobre a qualidade de vida de uma pessoa. Se, por algum motivo, essa pessoa só tem acesso a água contaminada ela terá como resposta imediata o comprometimento da sua saúde.

Portanto,a água não é apenas um elemento vital para matar a nossa sede. Ela é também um elemento fundamental para a nossa qualidade de vida.

Sem água também não existe condições de se plantar ou produzir alimentos, e sem alimentos saudáveis nossa qualidade de vida está inexoravelmente comprometida.

Se o alimento é produzido a partir de água contaminada, teremos alimentos naturalmente contaminados (algo que está acontecendo em larga escala - a utilização de pesticidas nos produtos hortifrutigranjeiros, que colocam no mercado frutas e hortaliças altamente contaminadas).   

Fica, então, esse alerta: pensar em qualidade de vida passa necessariamente pela questão da qualidade da água a que temos acesso. Lembrando ainda que até para o lazer a água desempenha papel fundamental. E lazer também está intimamente relacionado com a nossa qualidade de vida.

domingo, 16 de novembro de 2014

Uma homenagem: O menino que carregava água na peneira

Abro espaço para prestar uma homenagem ao poeta Manoel de Barros que, aos 97 anos, nos deixou órfãos de sua poesia.

Manoel de Barros era o "poeta da simplicidade", o poeta que tirava das coisas aparentemente insignificantes da natureza o vigor da sua palavra.

Ler Manoel de Barros é beber na fonte das coisas naturais
.
Com a poesia de Manoel de Barros se aprende a amar e respeitar a Natureza: a água, os seres vivos, todas as coisas que a "Mãe Terra" nos disponibiliza para a sobrevivência e para o prazer.

O poema abaixo, cujo título é "O menino que carregava água na peneira" nos dá uma ideia da força e da beleza da poesia de Manoel de Barros


O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

sábado, 8 de novembro de 2014

Falta d'água: a parcela que cabe ao povo

Com o agravamento da crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo e a sua ampliação para inúmeras cidades do interior paulista, os administradores públicos começam a apelar para a boa vontade do povo no que diz respeito à falta d’água nas residências. As palavras de ordem agora veiculadas são as seguintes: “o povo precisa ser mais paciente”; “o cidadão precisa colaborar com a redução do desperdício”; “o povo precisa entender a crise que estamos vivendo”. A mídia, por sua vez, começa a divulgar com mais frequência campanhas voltadas para o combate ao desperdício e para o uso racional da água.
 
Mais uma vez observamos a repetição de um erro histórico. O erro de imaginar que se promove mudança de comportamento de um grande contingente populacional apenas com campanhas esporádicas na mídia ou mesmo através de apelos sensacionalistas.
Se queremos verdadeiramente criar uma cultura de preservação dos recursos hídricos e de redução do desperdício de água, devemos pensar em um programa educativo de longo prazo, envolvendo todos os segmentos sociais, todos os entes públicos, todos os agentes produtivos e todos os formadores de opinião. Temos de abandonar os velhos hábitos, que contemplam ações de convocação do povo para combater a crise quando essa crise já está instalada.
Criar uma consciência coletiva de uso racional da água requer tempo e persistência. E nesse processo de educação coletiva existem dois agentes fundamentais: o poder público e as empresas de mídia. O poder público deve ser o patrocinador desse amplo programa educativo e a mídia deve ser o veículo que levará a cada lar, a cada família, as informações necessárias para a materialização do programa. Esse processo educativo deve ser estendido para dentro das escolas, das empresas, dos órgãos públicos (municipais, estaduais e municipais), além de permear os três poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. Todos, sem exceção, têm de participar ativamente desse processo. De outra forma, estaremos perdendo tempo e despendendo energia, com fórmulas que não surtirão o efeito desejado.  
Tendo o povo consciente do seu papel, as ações preventivas e corretivas poderão ser muito mais facilmente implementadas. Nesse modelo proposto, o povo deixará de desempenhar o papel de mero espectador para atuar como agente transformador. Só assim estaremos preparados tanto para evitar a implantação de uma situação de crise, como para sabermos nos portar naquelas situações em que a crise nos envolva.
O espírito colaborativo é mais forte naquelas comunidades onde o senso de coletividade é algo natural, onde o senso de coletividade faz parte dos nossos hábitos. A receita é simples: Conhecer para proteger.