segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Qual a idade das águas?

Você já parou para pensar sobre a idade da água que você está bebendo? Essa pergunta, um pouco desconcertante, não costuma passar por nossas cabeças. Será que existe água nova? Existirá água velha? A rigor, segundo os especialistas no assunto, não existe água nova no planeta Terra. Os estudos que tratam dessa questão consideram que a água hoje existente no nosso planeta foi gerada durante o processo de formação da Terra, há pelo menos quatro bilhões de anos atrás. Em outras palavras, não existem evidências científicas de que estejam sendo gerados volumes significativos de água primária no nosso planeta. Na verdade, o que observamos é um processo de renovação dos mananciais de águas superficiais e subterrâneas no planeta através do conhecido "ciclo das águas".
Mas é possível se falar numa escala relativa de idade para a água consumida por nós. Essa questão costuma ser tratada em termos do “tempo de residência” da água nos diferentes tipos de mananciais existentes, sejam eles superficiais, sejam subterrâneos. Vejamos alguns exemplos: a água que recolhemos durante uma chuva pode ser considerada como uma água nova; o mesmo não podemos dizer de uma água recolhida na foz de um rio, por exemplo, na foz do rio Potengi. Neste caso, essa água pode ter alguns anos, desde que ela foi incorporada à massa total de água que se desloca ao longo do leito do rio; já quando tomamos uma água retirada de um poço, é muito provável que estejamos bebendo uma água com pelo menos algumas centenas de anos, contados a partir do momento em que ela se infiltrou no terreno. Na Europa, é comum a venda de água mineral retirada de geleiras, nesse caso as águas têm idades da ordem de milhares de anos. Em algumas geleiras do hemisfério Norte já foram determinadas idades de até 20 mil anos.
Os hidrogeólogos consideram que as águas mais antigas são aquelas armazenas no interior da terra, em reservatórios subterrâneos, conhecidos como aqüíferos confinados. Em reservatórios desse tipo existem armazenadas as chamadas “águas fósseis”, que podem ser definidas como sendo aquelas “águas infiltradas num aqüífero, numa época geológica passada, há milhares ou milhões de anos, sob condições climáticas e morfológicas diferentes das atuais e armazenadas desde então”. Em alguns casos, podemos encontrar águas fósseis com idade superior a cem milhões de anos.
Podemos perguntar, então: Será que existem águas tão antigas assim no estado do Rio Grande do Norte? Para ilustrar melhor esse assunto, um morador de Mossoró, quando enche um copo de água na torneira de sua casa, está contemplando uma água que pode ter pelo menos dez mil anos de idade. Neste caso específico, não estamos tratando, a rigor, de “água fóssil”. Mas estamos nos referindo a águas muito antigas, armazenadas no aqüífero Açu, principal fonte de água potável para a região de Mossoró. Essa água faz parte do ciclo hidrológico e se desloca no interior das rochas com velocidade de alguns centímetros por ano. Você não acha que uma água dessas merece respeito?
Retirado do livro "Pedagogia da Água - Sobre o papel do cidadão
na preservação dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal - RN)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Precisamos conhecer os rios

O ato de proteger é potencializado essencialmente pelo ato de conhecer. Não se protege aquilo que não se conhece. Essa é uma característica marcante do ser humano. Talvez resida aí a pouca participação das pessoas nas iniciativas que buscam proteger o meio ambiente, particularmente os mananciais de água potável, pois a falta de conhecimento leva à alienação e ao imobilismo.
Quando discutimos, por exemplo, as estratégias para a recuperação ou preservação de um rio, precisamos primeiramente fazer um levantamento sobre as características desse corpo d’água. Para tal, existe toda uma metodologia científica que é aplicada com a finalidade específica de se caracterizar a área em que se situa determinado rio, seu regime de fluxo e os elementos críticos que controlam o ciclo hidrológico daquela região. Porém conhecer um rio exige que desenvolvamos a nossa capacidade de ter uma visão de conjunto. O rio é como um organismo vivo que não pode ser analisado através de sua segmentação, por pedaços isolados.
A medicina moderna nos ensina, por exemplo, que para tratar uma determinada doença ou um determinado órgão que apresente algum tipo de deficiência, é fundamental que se considere o corpo humano na sua totalidade. O mesmo ocorre com os rios. Se desejamos preservar ou recuperar um determinado curso d’água é preciso considerá-lo na sua plenitude. E quais são os elementos que precisam ser conhecidos de um rio? Os elementos-chaves a serem considerados são: as áreas das nascentes; o tipo de solo e o relevo da bacia hidrográfica; as matas ciliares; os afluentes do rio principal; o volume de água corrente e acumulada; e finalmente as desembocaduras desses rios ou os locais onde eles deságuam.
No momento em que o Rio Grande do Norte se prepara para implantar o primeiro “Comitê de Bacia Hidrográfica”, no caso, o “Comitê do Rio Pitimbu”, precisamos aprofundar as discussões quanto ao grau de conhecimento dos potiguares sobre os nossos rios, particularmente aqueles que são usuários de águas ou que residem próximo desses cursos d’água. Precisamos tomar conhecimento de que a legislação brasileira sobre as águas considera as “Bacias Hidrográficas” como unidades básicas de planejamento dos recursos hídricos nacionais. A nossa legislação, que trata da política estadual de recursos hídricos (lei Nº 6.908/96), estabelece que “a unidade básica de planejamento para a gestão dos recursos hídricos é a bacia hidrográfica”. Aliada a isso, essa mesma legislação define que um dos condutores da política estadual de recursos hídricos é o Comitê de Bacia Hidrográfica, que é composto por representantes dos usuários de água e das comunidades. Daí a importância de desencadearmos ações voltadas para um melhor conhecimento dos nossos rios e, conseqüentemente, das nossas bacias hidrográficas, visando possibilitar uma participação efetiva da população nos novos mecanismos instituídos para o gerenciamento dos mananciais de água potável no Rio Grande do Norte, como é o caso dos Comitês de Bacias Hidrográficas.

Retirado do livro "Pedagogia da Água - Sobre o papel do cidadão na preservação dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)