quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Precisamos conhecer os rios


O ato de proteger é potencializado essencialmente pelo ato de conhecer. Não se protege aquilo que não se conhece. Essa é uma característica marcante do ser humano. Talvez resida aí a pouca participação das pessoas nas iniciativas que buscam proteger o meio ambiente, particularmente os mananciais de água potável, pois a falta de conhecimento leva à alienação e ao imobilismo. 

Quando discutimos, por exemplo, as estratégias para a recuperação ou preservação de um rio, precisamos primeiramente fazer um levantamento sobre as características desse corpo d’água. Para tal, existe toda uma metodologia científica que é aplicada com a finalidade específica de se caracterizar a área em que se situa determinado rio, seu regime de fluxo e os elementos críticos que controlam o ciclo hidrológico daquela região. 


Porém conhecer um rio exige que desenvolvamos a nossa capacidade de ter uma visão de conjunto. O rio é como um organismo vivo que não pode ser analisado através de sua segmentação, por pedaços isolados. 

A medicina moderna nos ensina, por exemplo, que para tratar uma determinada doença ou um determinado órgão que apresente algum tipo de deficiência, é fundamental que se considere o corpo humano na sua totalidade. O mesmo ocorre com os rios. 


Se desejamos preservar ou recuperar um determinado curso d’água é preciso considerá-lo na sua plenitude. 

E quais são os elementos que precisam ser conhecidos de um rio? Os elementos-chaves a serem considerados são: as áreas das nascentes; o tipo de solo e o relevo da bacia hidrográfica; as matas ciliares; os afluentes do rio principal; o volume de água corrente e acumulada; e finalmente as desembocaduras desses rios ou os locais onde eles deságuam.

Precisamos aprofundar as discussões quanto ao grau de conhecimento dos cidadãos brasileiros sobre os nossos rios, particularmente aqueles que são usuários de águas ou que residem próximo desses cursos d’água. Precisamos tomar conhecimento de que a legislação brasileira sobre as águas considera as “Bacias Hidrográficas” como unidades básicas de planejamento dos recursos hídricos nacionais. 


Daí a importância de desencadearmos ações voltadas para um melhor conhecimento dos nossos rios e, consequentemente, das nossas bacias hidrográficas, visando possibilitar uma participação efetiva da população nos novos mecanismos instituídos para o gerenciamento dos mananciais de água potável no território brasileiro, como é o caso dos Comitês de Bacias Hidrográficas.

Retirado do livro "Pedagogia da água - Sobre o papel do cidadão na preservação dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho

sábado, 9 de janeiro de 2016

Águas de 2015 e perspectivas para 2016

O ano de 2015 nos revelou questões muito importantes envolvendo o cuidado que devemos ter com os recursos hídricos.

O ano de 2015 também nos mostrou que a mudança climática pela qual passa o planeta deve ser tratada com seriedade e urgência necessária. Os seus reflexos já estão sendo sentidos na cidade e no campo.

A questão hídrica nos centros urbanos, principalmente nas grandes metrópoles brasileiras, trouxe muito desconforto para milhões de lares. A mídia televisiva, por exemplo, mostrou ao longo do ano de 2015 a crise hídrica vivenciada por um contingente significativo de pessoas que habitam a região metropolitana de São Paulo. Da mesma forma, foram divulgadas deficiências de disponibilização de água potável no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, no Recife, em Fortaleza, e em tantas outras cidades brasileiras. Portanto, a questão hídrica nos centros urbanos brasileiros é um problema conhecido e que necessita de ações estruturantes com visão de longo prazo.

Mas o fato mais marcante e de maior repercussão foi o desastre de Mariana, que além de implicar em prejuízos materiais incalculáveis, provocou um impacto ambiental de dimensões assustadoras. Fora o impacto econômico, de fácil percepção, o rompimento das barragens da empresa Samarco comprometeu todo o ecossistema da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Aliado a isso, ainda existe o risco de impactar significativamente o ecossistema costeiro do estado do Espírito Santo. No momento em que escrevo este artigo, equipes do IBAMA estão coletando amostras de lama que já alcançaram o arquipélago de Abrolhos, no Sul da Bahia, que nada mais é do que o mais importante ecossistema marinho da costa brasileira.

Voltando à questão das mudanças climáticas, foi divulgado pelo Governo federal o relatório "Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima", que aponta uma série de ameaças tanto para regiões urbanas, quanto para áreas industriais e agrícolas. Tratam-se de cenários com grande probabilidade de ocorrerem, função das mudanças climáticas que já estão sendo observadas, que exigirão a implementação de obras estruturantes de grande porte para garantir a segurança hídrica dos cidadãos, da indústria e do agronegócio.

Que em 2016 possamos ver aprofundadas as discussões sobre este tema e que também já sejam iniciadas ações visando o planejamento adequado das soluções estruturantes que garantam segurança hídrica para todos os segmentos sociais e econômicos do nosso país.

Que também em 2016 o poder público possa trabalhar efetivamente no sentido de solucionar os déficits hídricos das Regiões Metropolitanas que vivenciam a dura realidade da falta de água.

E que possamos, todos nós, nas nossas diferentes áreas de atuações, contribuir com a Pedagogia da Água, tão necessária nesse país de dimensões continentais, visando a preservação dos nossos recursos hídricos.