quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A água que não vemos

     O conceito de "Água Virtual" ainda é muito pouco compreendido pela maioria da pessoas. Ele foi introduzido no ano de 1993 pelo Prof. Anthony Allan, do Kings College, de Londres, e representa o volume de água utilizado na produção de bens agrícolas, industriais ou até mesmo de serviços. Em outras palavras, refere-se à quantidade de água gasta para se produzir um bem, produto ou serviço.
    
     Quando a questão é abordada no âmbito do Comércio, local ou internacional, a "Água Virtual" diz respeito ao comércio indireto da água que está embutida nos produtos vendidos ou comprados. Um exemplo: quando eu compro uma camiseta de algodão, eu estou trazendo junto 2700 litros de água que foram usados para a produção daquela camiseta.

      Sabe-se que os produtos agropecuários demandam volumes muito grandes de água. Uma das campeães é a carne bovina. Para se produzir um quilo de carne bovina é necessária a utilização de aproximadamente 17.000 litros de água.

      Segue abaixo uma relação do volume de "Água Virtual" associado a produtos agrícolas e industriais:

1 folha de papel A4 = 10 litros de água
1 fatia de pão = 40 litros de água
1 maçã = 70 litros de água
1 banana = 499 litros de água
1 kg de arroz = 3.400 litros de água
1 kg de queijo = 5.280 litros de água
1 kg de azeite de oliva = 11.350 litros de água
1 kg de couro industrializado = 16.600 litros de água
1 kg de manteiga = 18.000 litros de água

      A necessidade de água para o agro-negócio e para a indústria é hoje uma questão crítica, pois em muitas regiões os recursos hídricos são escassos. Em algumas regiões agrícolas o processo de desertificação já é uma realidade, pelo uso inadequado de sistemas de irrigação e pela falta de proteção dos mananciais de água superficial e subterrânea.

      Nós que somos consumidores de produtos beneficiados, sejam eles agrícolas ou industriais, quase sempre não percebemos o quanto de água foi utilizado para colocar à nossa disposição determinado produto. Daí a importância de entendermos o conceito de "água virtual". Só assim poderemos ampliar a nossa percepção quanto à necessidade de preservação dos mananciais de água do planeta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Água que sobra, água que falta

     Neste verão, como em outros verões, estamos vivenciando a experiência da desequilibrada oferta hídrica que existe no Brasil, resultante de fatores climáticos. Enquanto no Sudeste o excesso de chuva está causando prejuízos incalculáveis para a população e para os poderes públicos, no Nordeste a falta de chuva está levando inúmeras comunidades rurais ao estado de calamidade pública. Quantas vidas já se perderam devido aos alagamentos e escorregamento de barreiras? Quantas vidas já foram consumidas pela sede? Dois estados críticos, dois cenários devastadores. Para cada um deles uma forma adequada de se tratar. Dois cenários distintos e um ponto em comum, a água.

     Nos dois casos, fica clara a falta de ações de proteção, ou melhor dizendo, de ações preventivas, que possibilitem o convívio seguro tanto com o excesso quanto com a falta de água. No Nordeste, as ações de combate à seca nunca equacionaram adequadamente o problema. As antigas fórmulas de construção de açudes são comprovadamente ineficazes. No sudeste, falta uma política confiável de controle da ocupação das encostas e recuperação das áreas degradadas. Nos dois casos, sobram discursos vazios e faltam ações consistentes, com visão de longo prazo. E  todos os anos a história se repete, algumas vezes com maior gravidade, como é o caso do corrente ano.

     Não falta dinheiro, não faltam idéias, nem conhecimento para solucionar o problema. Falta vontade de fazer, falta firmeza de propósitos, falta continuidade de ações, falta vergonha na cara.

     Como o fato é recorrente, necessitamos atuar na causa do problema. E nesse caso específico, tanto para a falta d'água no Nordeste, como para o excesso de água no Sudeste, precisamos agir rápido no sentido de tirar de campo os espertalhões de plantão, que só estão interessados em meter a mão no dinheiro destinado às obras; de moralizar a gestão dos recursos para as obras que se fazem necessárias; de garantir a continuidade das obras iniciadas, sem depender da boa vontade do grupo político A ou B; de envolver as comunidades atingidas, no sentido de se aplicar o princípio do "saber cuidar" da infraestrutura instalada e do meio físico compartilhado por todos.

     Precisamos agir no sentido de moralizar o uso da máquina pública, com foco no problema. E precisamos agir no sentido de promover uma educação que possibilite criar em cada cidadão a consciência de proteção do meio ambiente, do combate ao desperdício, do uso racional e seguro dos recursos hídricos.

     Nos dois casos referidos, a solução passa pela implementação de estruturas de captação e armazenamento de águas pluviais. No Nordeste, as unidades de armazenamento de água atuariam como reguladores da distribuição hídrica nos períodos de seca. No Sudeste, essas unidades de armazenamento de água atuariam como reguladores do fluxo hídrico nos períodos de chuva mais intensa. O modelo é simples: no período de seca, as unidades de armazenamento atuariam como unidades fornecedoras de água para a população; no período de chuva, essas unidades de armazenamento funcionariam como focos coletores de água das chuvas, regulando o nível dos rios e riachos, evitando o encharcamento excessivo do solo e minimizando o riscos de deslizamentos de encostas.

     Em resumo, a história é a mesma: água que sobra e água que falta.