Água que sobra, água que falta
Neste verão, como em outros verões,
estamos vivenciando a experiência da desequilibrada oferta hídrica que
existe no Brasil, resultante de fatores climáticos. Enquanto no Sudeste o
excesso de chuva está causando prejuízos incalculáveis para a população
e para os poderes públicos, no Nordeste a falta de chuva está levando
inúmeras comunidades rurais ao estado de calamidade pública. Quantas
vidas já se perderam devido aos alagamentos e escorregamento de
barreiras? Quantas vidas já foram consumidas pela sede? Dois estados
críticos, dois cenários devastadores. Para cada um deles uma forma
adequada de se tratar. Dois cenários distintos e um ponto em comum, a
água.
Nos dois casos,
fica clara a falta de ações de proteção, ou melhor dizendo, de ações
preventivas, que possibilitem o convívio seguro tanto com o excesso
quanto com a falta de água. No Nordeste, as ações de combate à seca
nunca equacionaram adequadamente o problema. As antigas fórmulas de
construção de açudes são comprovadamente ineficazes. No sudeste, falta
uma política confiável de controle da ocupação das encostas e
recuperação das áreas degradadas. Nos dois casos, sobram discursos
vazios e faltam ações consistentes, com visão de longo prazo. E todos
os anos a história se repete, algumas vezes com maior gravidade, como é o
caso do corrente ano.
Não
falta dinheiro, não faltam idéias, nem conhecimento para solucionar o
problema. Falta vontade de fazer, falta firmeza de propósitos, falta
continuidade de ações, falta vergonha na cara.
Como
o fato é recorrente, necessitamos atuar na causa do problema. E
nesse caso específico, tanto para a falta d'água no Nordeste, como para o
excesso de água no Sudeste, precisamos agir rápido no sentido de tirar
de campo os espertalhões de plantão, que só estão interessados em meter a
mão no dinheiro destinado às obras; de moralizar a gestão dos recursos
para as obras que se fazem necessárias; de garantir a continuidade das
obras iniciadas, sem depender da boa vontade do grupo político A ou B;
de envolver as comunidades atingidas, no sentido de se aplicar o
princípio do "saber cuidar" da infraestrutura instalada e do meio físico
compartilhado por todos.
Precisamos
agir no sentido de moralizar o uso da máquina pública, com foco no
problema. E precisamos agir no sentido de promover uma educação que
possibilite criar em cada cidadão a consciência de proteção do meio
ambiente, do combate ao desperdício, do uso racional e seguro dos
recursos hídricos.
Nos
dois casos referidos, a solução passa pela implementação de estruturas
de captação e armazenamento de águas pluviais. No Nordeste, as unidades
de armazenamento de água atuariam como reguladores da distribuição
hídrica nos períodos de seca. No Sudeste, essas unidades de
armazenamento de água atuariam como reguladores do fluxo hídrico nos
períodos de chuva mais intensa. O modelo é simples: no período de seca,
as unidades de armazenamento atuariam como unidades fornecedoras de água
para a população; no período de chuva, essas unidades de armazenamento
funcionariam como focos coletores de água das chuvas, regulando o nível
dos rios e riachos, evitando o encharcamento excessivo do solo e
minimizando o riscos de deslizamentos de encostas.
Em resumo, a história é a mesma: água que sobra e água que falta.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial