sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Água que sobra, água que falta

     Neste verão, como em outros verões, estamos vivenciando a experiência da desequilibrada oferta hídrica que existe no Brasil, resultante de fatores climáticos. Enquanto no Sudeste o excesso de chuva está causando prejuízos incalculáveis para a população e para os poderes públicos, no Nordeste a falta de chuva está levando inúmeras comunidades rurais ao estado de calamidade pública. Quantas vidas já se perderam devido aos alagamentos e escorregamento de barreiras? Quantas vidas já foram consumidas pela sede? Dois estados críticos, dois cenários devastadores. Para cada um deles uma forma adequada de se tratar. Dois cenários distintos e um ponto em comum, a água.

     Nos dois casos, fica clara a falta de ações de proteção, ou melhor dizendo, de ações preventivas, que possibilitem o convívio seguro tanto com o excesso quanto com a falta de água. No Nordeste, as ações de combate à seca nunca equacionaram adequadamente o problema. As antigas fórmulas de construção de açudes são comprovadamente ineficazes. No sudeste, falta uma política confiável de controle da ocupação das encostas e recuperação das áreas degradadas. Nos dois casos, sobram discursos vazios e faltam ações consistentes, com visão de longo prazo. E  todos os anos a história se repete, algumas vezes com maior gravidade, como é o caso do corrente ano.

     Não falta dinheiro, não faltam idéias, nem conhecimento para solucionar o problema. Falta vontade de fazer, falta firmeza de propósitos, falta continuidade de ações, falta vergonha na cara.

     Como o fato é recorrente, necessitamos atuar na causa do problema. E nesse caso específico, tanto para a falta d'água no Nordeste, como para o excesso de água no Sudeste, precisamos agir rápido no sentido de tirar de campo os espertalhões de plantão, que só estão interessados em meter a mão no dinheiro destinado às obras; de moralizar a gestão dos recursos para as obras que se fazem necessárias; de garantir a continuidade das obras iniciadas, sem depender da boa vontade do grupo político A ou B; de envolver as comunidades atingidas, no sentido de se aplicar o princípio do "saber cuidar" da infraestrutura instalada e do meio físico compartilhado por todos.

     Precisamos agir no sentido de moralizar o uso da máquina pública, com foco no problema. E precisamos agir no sentido de promover uma educação que possibilite criar em cada cidadão a consciência de proteção do meio ambiente, do combate ao desperdício, do uso racional e seguro dos recursos hídricos.

     Nos dois casos referidos, a solução passa pela implementação de estruturas de captação e armazenamento de águas pluviais. No Nordeste, as unidades de armazenamento de água atuariam como reguladores da distribuição hídrica nos períodos de seca. No Sudeste, essas unidades de armazenamento de água atuariam como reguladores do fluxo hídrico nos períodos de chuva mais intensa. O modelo é simples: no período de seca, as unidades de armazenamento atuariam como unidades fornecedoras de água para a população; no período de chuva, essas unidades de armazenamento funcionariam como focos coletores de água das chuvas, regulando o nível dos rios e riachos, evitando o encharcamento excessivo do solo e minimizando o riscos de deslizamentos de encostas.

     Em resumo, a história é a mesma: água que sobra e água que falta.

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