domingo, 29 de setembro de 2013

Declaração Universal da Água

          A "Declaração Universal da Água" é um documento editado pela Organização das Nações Unidas que visa a preservação dos Recursos Hídricos do planeta e o uso solidário desse bem comum. É importante que todos, jovens e adultos, tomem conhecimento do teor dessa Declaração.
 
1-A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável por ela.
 
 
2. A água é a seiva do planeta. A condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 3º de Declaração Universal dos Direitos Humanos.
 
3. Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, preocupação e parcimônia.

4. O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e dos seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente, para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos por onde os ciclos começam, assim como as nascentes dos rios.

5. Proteger a água é uma obrigação moral do homem para as gerações presentes e futuras.

6. A água não é uma doação gratuita da natureza, ela tem um valor econômico: é preciso saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.

7. A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento, para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração de qualidade das reservas atualmente disponíveis.

8. A utilização da água implica no respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo o homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.

9. A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.

10. O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

As nascentes e os rios

          Sou um privilegiado por já ter bebido água de nascente. Já vi a boa água brotar da terra. Água que borbulha como que se oferecendo para a vida. Água boa, boa água, cristalina e friazinha, de um frio que agrada, que revigora: frescor que rejuvenesce.
          Sou mesmo um privilegiado. Já ouvi o canto da água quando brota da terra. Um canto suave, que reconforta, que traz paz ao espírito. Diria melhor, não é bem um canto, é uma harmoniosa canção, de melódicas frases. Uma canção de amanhecer, de sol nascente, que nos convida para dançar.
          Tive mais privilégios ainda. Pude banhar-me em água de nascente. Ah, que banho bom, banho que não se esquece, banho virginal. O frescor da água escorrendo sobre a pele, uma carícia do criador. Água que banha corpo e espírito.
          E você, caro leitor, já teve a felicidade de estar em uma nascente? Seu filho ou sua filha já tiveram a oportunidade de ver uma nascente? Nas conversas entre pais e filhos vocês já falaram sobre a importância das nascentes para a saúde do planeta? Sobre o papel das nascentes para o equilíbrio ecológico dos rios?
          Fica pois um convite: que tal nas próximas férias, ou mesmo num feriado prolongado, programar uma visita à nascente de um rio? Posso lhe adiantar que a experiência será inesquecível.  

sábado, 14 de setembro de 2013

Água: aumento de demanda e contaminação

          Segundo relatório publicado pela ONU em 2013, sobre o desenvolvimento dos recursos hídricos no mundo, a disputa pela água exige atenção especial. A má utilização da água é um dos pontos destacados no relatório.

          As projeções futuras são preocupantes: enquanto a demanda por água vai crescer aproximadamente 55%, até 2050, o incremento demográfico nas próximas quatro décadas está estimado em três bilhões de pessoas. Quanta água será necessária para atender as demandas diárias desse contingente populacional?

          Se formos pensar apenas na água para matar a sede de três bilhões de pessoas, chegaremos no volume de água potável da ordem de seis bilhões de litros, por dia. Porém, essas pessoas também precisam se alimentar, e aí os números crescem consideravelmente. Segundo a ONU, são necessários de dois a cinco mil litros de água para produzir o alimento consumido por uma única pessoa diariamente. Isso significa dizer que precisaremos ter disponíveis de seis a quinze trilhões de litros de água, por dia, apenas para a produção de alimentos. Como também existe a projeção de crescimento industrial para os próximos anos, deve-se considerar também a água necessária para movimentar o parque industrial do planeta.
 
          Surge então uma pergunta: quais são os setores que mais consomem água? O campeão é a agricultura irrigada, que utiliza 70% da água. Em segundo lugar vem a indústri, que consome 20%. E em terceiro fica a população, que para atender às  suas demandas hidiênicas e de consumo direto utiliza 10% da água.

          Segundo o professor e pesquisador Carlos Eduardo Morelli Tucci, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS,  existem dois riscos que precisam ser levados em conta, por aqueles que gerenciam os recursos hídricos, quais sejam: o risco de escassez, em função do aumento da demanda; e o risco de escassez de qualidade, devido a contaminação da água disponível.

          Como, segundo previsões da UNESCO, até 2025 dois terços da população mundial estará sendo afetada, de alguma forma, por falta de água potável, devemos estar atentos tanto para as ações de preservação e recuperação dos mananciais de água superficiais e subterrâneos, como também para os mecanismos de gerenciamento dos recursos hídricos nas esferas federal, estadual e municipal.

          Quando falta água, o impacto primeiro se dá no seio da família.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Rio Potengi, berço da nação Potiguar

          Conta uma lenda, dessas lindas lendas de beira-mar, que ao escolher as margens do Rio Potengi para construir a sede da nação Potiguar, o grande pajé consultou a mãe Lua, perguntando-lhe: “Mãe de todas as noites, seria este um bom lugar para plantarmos as nossas raízes?”  A Lua Mãe, naquela noite, resplandeceu por entre as nuvens e disse: “Filho dessa terra abençoada, faça desse espaço a morada de toda essa nação guerreira. Construa a tua oca sobre esta areia branca e faça uso de tudo aquilo que a natureza colocar ao alcance de tuas mãos. Retire da floresta os frutos que matarão a tua fome e faça uso desse Rio sagrado com equilíbrio, porque ele matará a tua sede e lavará o teu corpo até o final dos tempos”. Satisfeito com a resposta, o velho pajé fez reverências aos céus e cravou sobre a areia o marco daquela aldeia que receberia o nome de Igapó.
Vieram os portugueses, conquistadores de mares longínquos, demarcaram a terra, construíram uma vistosa fortaleza e fundaram um povoado que recebeu a denominação de Cidade do Natal.  Muitas luas se passaram, foram-se os potiguares expulsos da velha aldeia; a pequena vila portuguesa tornou-se metrópole, e hoje assistimos indiferentes ao sacrifício lento e contínuo do sagrado Potengi. A cidade despeja no seu leito, sem qualquer escrúpulo, as suas imundícies. O Rio agoniza aos pés dos Potiguares da nova era, e seguimos alardeando aos quatro ventos que o progresso é a marca dessa charmosa cidadela. Nem nos lembramos da mãe Lua, que chora em silêncio e que reflete a sua luz fria nas águas lentas daquele que foi o Rio dos Camarões.
Naqueles tempos idos do início da ocupação da terra Pityguara, pelos homens brancos da casa de Aragão e Castela, ouvia-se na língua tupi a afirmação contundente: água, o sangue da terra. Esta afirmação ecoava forte no seio da floresta. Anciões e jovens guerreiros participavam do ritual da “dança da chuva”, entoando canções de agradecimento à mãe Lua pela água cristalina que corria nos riachos e que alimentavam o Potengi. A relação dos filhos da floresta com as águas de todos os tipos era de respeito e amor. O ciclo das águas participava harmonicamente do ciclo da vida nas comunidades Pityguaras.
 
          Os estrangeiros venceram a guerra de ocupação. O povo Pityguara, subjugado pela força dos mosquetões e pela ganância da espada ibérica, cedeu lugar a uma nova civilização. Em nome do Deus cristão, o povo simples da floresta foi quase que totalmente dizimado. Os sobreviventes dessa guerra desigual foram forçados a aprender novos conceitos ditos civilizados. As relações naturais e equilibradas do homem com o meio físico começaram a ser quebradas. A povoação dos Reis Magos é elevada à condição de vila, a pequena vila toma ares de cidade e hoje se apresenta para o mundo como metrópole. E o rio, que deu vida à majestosa cidadela, agora agoniza diante de oitocentos mil corações, que seguem indiferentes o curso da história. Talvez devêssemos resgatar as palavras dos verdadeiros donos dessa terra, os guerreiros Pityguaras, na esperança de vermos estancadas as agressões cometidas diariamente contra o rio de nossas vidas, repetindo todos os dias “água, o sangue da terra”.

Retirado do livro "Pedagogia da Água"
Autor: João de Deus Souto Filho