domingo, 16 de março de 2014

Do rio que habita a poesia

No poema de João Cabral de Melo Neto o rio que muitas vezes deixamos de perceber. O rio que dá vida a milhares de cidades; o rio, que mesmo não sendo perene, como muitos rios do Nordeste do Brasil, alimentam a esperança daqueles que padecem da falta de água.

O Cão Sem Plumas

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.


O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.


Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.


Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.

Sabia da lama
como de uma mucosa.


Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.


Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

domingo, 9 de março de 2014

A crise da água: o que falta fazer?

Falta água para abastecer a região metropolitana de São Paulo. Falta água para matar a sede secular do povo nordestino que habita a região do Cariri. E a demanda de água só aumenta, acompanhando o crescimento das cidades, acompanhando a ampliação do agro-negócio nesse país de dimensões continentais. Á água que falta no Sistema Cantareira, por sua vez, alaga o Rio de Janeiro, em dias de temporal, alaga também quase todo o estado do Acre e suas cidades ribeirinhas.

O clima do planeta está mudando. As referências históricas que davam suporte ao gerenciamento dos recursos hídricos não garantem mais um planejamento seguro. Com os recursos tecnológicos atuais já é sabido que o “aquecimento do planeta” é uma realidade. Também é sabido que o padrão de consumo adotado pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento já ultrapassaram a capacidade do planeta.

Segundo o sociólogo e pensador polonês Zygmunt Bauman, “o problema não é a nossa falta de conhecimento, mas a falta de um agente capaz de fazer o que o conhecimento nos diz ser necessário fazer, e urgentemente. Por exemplo: estamos todos conscientes das conseqüências apocalípticas do aquecimento do planeta. E todos estamos conscientes de que os recursos planetários serão incapazes de sustentar a nossa filosofia e prática de “crescimento econômico infinito” e de crescimento infinito do consumo. Sabemos que esses recursos estão rapidamente se aproximando de seu esgotamento. Estamos conscientes — mas e daí? Há poucos (ou nenhum) sinais de que, de própria vontade, estamos caminhando para mudar as formas de vida que estão na origem de todos esses problemas.”

Voltando à crise da água que ameaça a qualidade de vida dos paulistanos, é notória a necessidade de se readequar o sistema de armazenamento e distribuição de água para a população. Uma nova estrutura precisa ser implementada, para dar sustentabilidade ao Sistema de Água Potável que abastece a região metropolitana de São Paulo. Esse projeto precisa ser iniciado já, uma vez que a sua implementação levará tempo (pelo menos cinco anos). Em paralelo a isso, é preciso investir forte na formação de uma consciência de proteção dos manaciais e de uso otimizado da água, evitando o desperdício. O consumidor de água precisa adotar um novo papel, o papel de “cuidador” dos recursos hídricos. Pois é preciso cuidar para não faltar.

O que estamos vendo acontecer em São Paulo, hoje, está muito próximo de se repetir nas demais metrópoles brasileiras (Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza). O aquecimento do planeta precisa entrar na equação do planejamento no Brasil.

sábado, 1 de março de 2014

Falta de água no carnaval

            O carnaval chegou. Para aqueles mais afeitos a festividades é o período mais aguardado do ano, quando o espírito de folião deve "botar o bloco na rua". Para aqueles mais chegados à vida pacata ou mesmo contemplativa, o momento é de relaxamento e de curtição das coisas belas da natureza. É a chance, por exemplo, de curtir uma boa praia com a família. 
 
            Nos dois casos, existe um elemento que pode ser definidor da qualidade do carnaval de cada um de nós. Esse elemento é a água. Se tiver água no período carnavalesco tudo comunga a favor de uma beleza de carnaval. Se, ao contrário, faltar água no período carnavalesco o carnaval pode virar um inferno.
 
            Portanto, quem considera a água um elemento importante para a tranquilidade do seu carnaval deve avaliar os riscos da falta de água naqueles locais escolhidos para passar o período carnavalesco.
 
            Aos foliões de carteirinha, um alerta: Em alguns bairros de Recife, Olinda, Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro, a falta de água é uma realidade. Aos foliões paulistanos, aqueles que ficarem na capital, cabe o alento de que, com a debandada de pessoas para o litoral e interior, o estresse hídrico da cidade foi reduzido um pouco.
 
            Aos que optaram pela curtição das praias, merece atenção as seguintes regiões: todo o litoral paulista, particularmente a baixada santista, pode ter sérios problemas de falta de água. Guarujá, por exemplo, é uma certeza quase que plena. No Rio de Janeiro, várias cidades litorâneas apresentam risco elevado de falta de água. No litoral nordestino, tanto as capitais quanto um número significativo de localidades não dispõem de uma infraestrutura de distribuição de água potável que suporte a sobrecarga do período carnavalesco. Exemplo disso é a cidade de Macau, no litoral do Rio Grande do Norte, que apresenta sérios problemas de falta de água durante o carnaval.
 
            Que a alegria do carnaval não se transforme em pesadelo pela falta de água. Que a escolha do local para passar o período carnavalesco seja feliz, pelo menos quanto à disponibilidade de água para atendimento das necessidades básicas. Bom carnaval a todos.