quinta-feira, 30 de maio de 2013

O fator geológico

              Em homenagem ao "Dia do Geólogo", que se comemora hoje, escolhi como tema "O Fator Geológico", desconhecido de muitos e fundamental para o desenvolvimento de qualquer país, além de ser crítico para a nossa qualidade de vida.

            Existem vários fatores indutores de desenvolvimento: políticos, educacionais, geográficos, culturais, tecnológicos, macro e micro-econômicos, infra-estruturais, dentre tantos outros. Porém, existe um que tem sido negligenciado ao longo da história brasileira e que constitui a base do desenvolvimento sustentável de qualquer nação. Trata-se do Fator Geológico. Se tomarmos por base o conceito de que as principais riquezas de um país são os seus recursos naturais, não será difícil concluir que as geociências desempenham papel crítico na caracterização e quantificação dessas riquezas. O conhecimento geológico é a base para o desenvolvimento industrial, agro-pecuário e turístico.

              No campo industrial, é sabido que sem matéria-prima não existem condições de implantação de uma indústria forte e competitiva. No campo da agropecuária ocorre o mesmo, pois são diretamente dependentes da tipificação dos solos, da caracterização dos mananciais de águas superficiais e subterrâneas e da disponibilidade de fertilizantes e sais minerais para elevação dos níveis de produtividade do chamado agronegócio. No campo do turismo, a compreensão dos fenômenos formadores das paisagens naturais e dos sítios ecológicos, bem como a determinação da capacidade de carga dos parques naturais, dependem de um conhecimento adequado sobre a geologia dos terrenos onde essas atividades se desenvolvem.
  O Fator Geológico também tem sido negligenciado no planejamento urbano. A totalidade das metrópoles brasileiras enfrenta problemas de ocupação inadequada do solo, de esgotamento sanitário e de disponibilização de água potável para a população. Esses problemas estão diretamente relacionados à falta de estudos geológicos e à ausência de profissionais de geologia no planejamento urbano. Essa realidade é verificada em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Fortaleza e Salvador, trazendo prejuízos gigantescos para a administração pública e comprometendo a qualidade de vida dos cidadãos. Em Natal, a metrópole potiguar, essa ausência da geologia no planejamento urbano se reflete na contaminação das águas subterrâneas, nos freqüentes problemas de alagamentos e na ocupação de áreas de risco quanto aos aspectos de deslizamento de solo.
 
            Na semana em que se comemora o “dia do geólogo”, é importante ressaltar a contribuição que os profissionais de geologia podem oferecer para o crescimento sustentável do Brasil, considerando o Fator Geológico como indutor de desenvolvimento. O geólogo está habilitado a realizar trabalhos de mapeamento, exploração e lavra de recursos minerais. Também está preparado para efetuar estudos hidrológicos e hidrogeológicos, voltados para a investigação, prospecção, captação, controle, exploração e gestão dos recursos hídricos. Ele tem competência para identificar, estudar e controlar os fenômenos que afetam a conservação do meio ambiente. Pode atuar na elaboração e coordenação de planos e projetos de recuperação de espaços afetados por atividades extrativas, bem como tem atribuições para conduzir estudos e projetos de proteção e descontaminação de solos alterados por atividades industriais, agrícolas e antrópicas. E, dentre tantas outras competências, dispõe de conhecimento para realizar estudos de dinâmica costeira e efetuar trabalhos de regeneração de praias.

Em suma, o Fator Geológico constitui elemento crítico para a construção de uma economia forte e para a elaboração de um projeto de desenvolvimento que contemple o equilíbrio com o meio ambiente.
 
Há mais de quinze anos venho defendendo a tese de que em todas as prefeituras das cidades brasileiras deveria estar fixado, na sala do Prefeito e na sala do Secretário de Planejamento, o Mapa Geológico do município. Esse mapa serviria de base para toda e qualquer ação voltada para o planejamento urbano, desde as obras de infra-estrutura até os projetos de recuperação de áreas degradadas, passando pelas análises de risco de catástrofes e prevenção de acidentes. O Mapa Geológico é o substrato que dá sustentação ao conceito de Cidade Saudável.
 
Parabéns aos Profissionais de Geologia pelo Dia do Geólogo.

domingo, 26 de maio de 2013

Água: sobre os nossos papéis

          Refletir sobre os nossos papéis na sociedade é um exercício de cidadania, particularmente nos tempos atuais onde predomina o individualismo. O mundo multimídia do qual fazemos parte parece dispor dos recursos tecnológicos para a solução dos mais complexos problemas que surgem à nossa frente. Porém, a realidade dos fatos vivenciados por nós demonstra a cada segundo que alguns problemas se agravam enormemente. Daí a importância de refletirmos sobre os papéis que desempenhamos no mundo social, no mundo econômico, o mundo cibernético.
          Mas não basta apenas "pensar sobre", é preciso também "agir de modo objetivo". Precisamos nos enxergar como "atores" nessa complexa teia social.
          Para estimular essa reflexão, seguem algumas questões: - Que papel tenho desempenhado na defesa do meio ambiente? - Tenho feito alguma coisa de concreto a favor da preservação dos mananciais de água potável na região onde vivo? - Como tenho me posicionado com relação às deficiências de infraestrutura básica na cidade onde habito? - Posso contribuir para a melhoria das condições de segurança no meu bairro ou na minha cidade? - Tenho participado de algum forum de discussão sobre a melhoria das condições de vida na minha cidade? - Ao longo da minha vida, tenho dado alguma contribuição objetiva na busca da solução de problemas que afetam a mim e à minha família? - Tem agido, de fato, como um ser social?
          Os temas são os mais diversos e não temos tempo nem condições de atuar em múltiplas frentes. Porém, é fundamental a nossa contribuição em alguma frente de ação, por menor que seja. Como seres sociais, precisamos agir socialmente, no sentido de buscar transformar o mundo para melhor. Não podemos e não devemos atuar como meros expectadores. O nosso país, em particular, precisa de mais "atores sociais". Que tal começar pelas questões ligadas à preservação dos nossos mananciais de água? Dos nossos rios, das nossas lagoas, dos nossos açudes, das nossas praias?
 

domingo, 19 de maio de 2013

Chora Pantanal Querido

CHORA PANTANAL QUERIDO
 
[Sobre o lixo que o Bicho Homem leva para o Pantanal]

Chora Tuiuiú,
Curicaca,
Conselheiro.

Chora Saracura,
Juçanã,
Gavião Caramujeiro.

Chora Capivara,
Macaco-Prego,
Veado-Campeiro.

Chora Arraia Prateada,
Pacu, Bagre,
Pintado faceiro.

Chora eu,
Chora você,
Por todo esse lixo
Espalhado...

O rio, cadê o rio
No santuário encantado?
Quem trouxe tanta sujeira
Que vejo por todo lado?
Seria a brisa pantaneira,
Seria o mar do passado?

Chora eu,
Chora você,
Por todo esse lixo
Espalhado.

O verde, cadê o verde
Dessa mata imaculada?
Quem trouxe para essas margens
Tanto vidro, tanta lata?

Seria a chuva torrente,
Seria essa correnteza?
Ou seria essa rica gente
De lancha e bela viseira?

Chora eu,
Chora você,
Por todo esse lixo
Espalhado.

A trilha, cadê a trilha,
Dantes virgem,
Sem desbastes?
Quem repisou estas flores,
Quem quebrou mais esse galho?

Seria a mãe sucuri
Que se arrasta com cuidado?
Ou mesmo o bicho-preguiça
Que segue no lento passo?

E a água cristalina,
De muitos tempos passados,
Quem é mesmo o responsável
Pelos lagos contaminados?
Seria a Coruja Buraqueira
Ou o pequeno João-de-Barro?

Diz a canção pantaneira:
"Chalana, velha Chalana,
Leva por essas águas
Esse meu grito de dor
Quando vejo tanta gente
Deixando as suas sujeiras
Nesta savana multicor."

Quem sabe um dia o turista
Possa vir a compreender
Que mais vale a terra limpa
E a boa água de beber
Do que o lixo espalhado
Por toda essa ribanceira
Que faz desse vale encantado
Uma verdadeira lixeira.

Pantanal da minha vida,
Meu gavião dourado.
Periquito está chorando
Lá no alto da palmeira,
Olha triste, acabrunhado,
Para essa grande sujeira.

Até a onça pintada
Vai pro meio da estrada:
Quer olhar no fundo do olho
Desse bicho que se espalha
Trazendo pra nossa terra
Seus lixos, suas tralhas.

E os deuses da verde mata,
Guardiões dessas riquezas,
Vestem luto, ficam mudos,
Com toda essa desgraçeira.

Chora Jacaré ligeiro,
Tamanduá Bandeira.
Chora eu e o mundo inteiro
Por esse desastre pantaneiro.

Meu filho também suspira,
E me pergunta indignado:
- Que herança me deixaste
Nesse Pantanal amado?

O rio, cadê o rio,
Que antes trazia vida ?
A mata, cadê a mata,
Tão viçosa de outrora?
Cadê o canto das aves
Que embalava o meu sono?
Responda meu pai querido,
Por que permitiste isso?

Chora o povo da floresta,
Chora mãe d'água encantada,
O choro dos condenados.
Aquele choro doído
Por ter seu corpo violado.

Quem será o "gran Juiz"
Dessa peleja desigual?

Não sei nem mesmo imagino
A quem caberá a decisão
De por fim a essa maldade.

Tenho, porém, no meu peito
Uma única e grande certeza:
No dia do Gran Juízo,
Ao homem será cobrada
A conta por tudo isso.
Nessa hora, nesse dia
Este ser racional
Reconhecerá seus erros
Cometidos no Pantanal.

                  Fim
(João de Deus Souto Filho)
 
             Julho/2001

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Nós e a natureza: por José Saramago

          O consagrado escritor português, prêmio Nobel da Literatura, José Saramago, era homem de hábitos simples, tendo passado a infância em Azinhaga, pequena aldeia situada às margens do rio Almonda. Mesmo depois da fama, expressava o seu profundo interesse pelas coisas da natureza.
          Saramago, em uma de suas inúmeras entrevistas declarou: "Eu entendo a felicidade como uma relação de harmonia, como uma relação estreita da pessoa com a sociedade, com os que lhe são próximos e com o meio ambiente".
          Em certa ocasião lhe perguntaram sobre as pedras que tinha em casa. Sua resposta foi: "Por que tenho a casa cheia de pedras? Há muita imaginação e fantasia nisso tudo. Quando falo assim de uma pedra é uma ilusão minha, porque é uma coisa inerte, insensível. Mas se pego, se a tenho na mão, já é algo que pertence à minha própria família, porque não é uma pedra de Marte, é uma pedra da Terra, que é o lugar onde estou."
          Para Saramago, o respeito à natureza se traduzia em atos simples. Vejam o que ele disse sobre os cuidados com o jardim da sua casa em Lanzarote, onde passou os últimos dias da sua vida, e seu respeito à natureza: "Estou sempre preocupado aqui com que os pássaros tenham água. São coisas tolas, mas alguém tem de se encarregar, porque se não tem água aqui encontram-na em outro lugar; mas não, eu quero que os pássaros tomem água aqui e ponho água limpa para eles, e a água está ali. Por isso creio que tenho um vínculo natural, espontâneo, com o sentir a paisagem, o céu, as nuvens. Vivi uma relação com a natureza que se deu naturalmente: um recanto, uma árvore, um rio. Coisas que são o próprio mundo. Não é a natureza abstrata: é a cobra, o sapo... Não tem nenhuma importância... Serpentes, lagartos... que importância têm. Para muitos, talvez, nenhuma. Mas, para mim, têm toda."
          Para além do escritor, podemos perceber o bravo Saramago nos mostrando o valor do respeito pelas coisas naturais. É o ser social se reconhecendo como ser natural.

domingo, 5 de maio de 2013

2013: ano internacional da cooperação pela água

            O ato de cuidar da água não pode se restringir a uma ação pontual ou individual. Proteger os recursos hídricos exige ação coletiva, envolvendo todos os segmentos da sociedade. O crescimento industrial nos países em desenvolvimento, aliada à ampliação das fronteiras agrícolas e ao crescimento urbano, tem aumentado a pressão sobre os recursos hídricos. A cada dia que passa os mananciais de água potável do planeta estão reduzindo, particularmente nas proximidades dos grandes centros urbanos. Daí a necessidade de se desenvolver ações de cooperação pela água.

Essas ações de cooperação podem se desenvolver em diferentes escalas, começando nas ações de caráter global, envolvendo nações, passando pela cooperação através de fronteiras, intercâmbio de dados científicos ou projetos de parceria entre países, chegando até aquelas ações de caráter mais local que envolvem municípios ou mesmo pequenas comunidades, que podem, por exemplo, implementar ações de proteção das fontes de água potável uma determinada localidade ou até mesmo de despoluição de uma lagoa.

As Nações Unidas, no documento de lançamento da Campanha “Cooperação pela Água 2013”, explicita que “o desenvolvimento da cooperação pela água envolve uma abordagem que reúne fatores e disciplinas culturais, educacionais e científicas e deve cobrir diversas dimensões: religiosa, ética, social, política, legal, institucional e econômica.” No meu entender, essa campanha só obterá sucesso se contar com a participação do cidadão comum, daquele usuário de água que, além de consumidor, é o principal agente capaz de materializar as ações práticas de cooperação pela água. Como se trata de tema que afeta diretamente a qualidade de vida de todos nós, o “cidadão comum” não pode ser visto como um mero expectador.    

Complementando as informações sobre a Campanha “Cooperação pela Água 2013”, transcrevo a seguir os cinco objetivos estratégidos estabelecidos pela UNESCO:

1. Conscientizar sobre a importância, os benefícios e os desafios da cooperação em questões relacionadas à água;
2. Gerar conhecimento e construir capacidades em prol da cooperação pela água;
3. Provocar ações concretas e inovadoras em prol da cooperação pela água;
4. Fomentar parcerias, diálogo e cooperação pela água como prioridades máximas, mesmo após 2013;
5. Fortalecer a cooperação internacional pela água para abrir caminho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável defendidos por toda a comunidade que trata sobre água e atendendo às necessidades de todas as sociedades.
            Venha participar dessa iniciativa da UNESCO. Discuta com os amigos, colegas de trabalho e familiares. Informe-se mais sobre o Programa através do site da UNESCO - http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/2013-international-year-of-water-cooperation.