Chora Pantanal Querido
CHORA PANTANAL QUERIDO
[Sobre o lixo que o Bicho Homem leva para o Pantanal]
Conselheiro.
Gavião Caramujeiro.
Veado-Campeiro.
Pintado faceiro.
Por todo esse lixo
Espalhado...
Quem trouxe tanta sujeira
Que vejo por todo lado?
Seria a brisa pantaneira,
Seria o mar do passado?
Por todo esse lixo
Espalhado.
Quem trouxe para essas margens
Tanto vidro, tanta lata?
Ou seria essa rica gente
De lancha e bela viseira?
Por todo esse lixo
Espalhado.
Sem desbastes?
Quem repisou estas flores,
Quem quebrou mais esse galho?
Ou mesmo o bicho-preguiça
Que segue no lento passo?
Quem é mesmo o responsável
Pelos lagos contaminados?
Seria a Coruja Buraqueira
Ou o pequeno João-de-Barro?
Leva por essas águas
Esse meu grito de dor
Quando vejo tanta gente
Deixando as suas sujeiras
Nesta savana multicor."
Que mais vale a terra limpa
E a boa água de beber
Do que o lixo espalhado
Por toda essa ribanceira
Que faz desse vale encantado
Uma verdadeira lixeira.
Periquito está chorando
Lá no alto da palmeira,
Olha triste, acabrunhado,
Para essa grande sujeira.
Quer olhar no fundo do olho
Desse bicho que se espalha
Trazendo pra nossa terra
Seus lixos, suas tralhas.
Vestem luto, ficam mudos,
Com toda essa desgraçeira.
Chora eu e o mundo inteiro
Por esse desastre pantaneiro.
- Que herança me deixaste
Nesse Pantanal amado?
A mata, cadê a mata,
Tão viçosa de outrora?
Cadê o canto das aves
Que embalava o meu sono?
Responda meu pai querido,
Por que permitiste isso?
O choro dos condenados.
Aquele choro doído
Por ter seu corpo violado.
Não sei nem mesmo imagino
A quem caberá a decisão
De por fim a essa maldade.
No dia do Gran Juízo,
Ao homem será cobrada
A conta por tudo isso.
Nessa hora, nesse dia
Este ser racional
Reconhecerá seus erros
Cometidos no Pantanal.
[Sobre o lixo que o Bicho Homem leva para o Pantanal]
Chora Tuiuiú,
Curicaca,Conselheiro.
Chora Saracura,
Juçanã,Gavião Caramujeiro.
Chora Capivara,
Macaco-Prego,Veado-Campeiro.
Chora Arraia Prateada,
Pacu, Bagre,Pintado faceiro.
Chora eu,
Chora você,Por todo esse lixo
Espalhado...
O rio, cadê o rio
No santuário
encantado?Quem trouxe tanta sujeira
Que vejo por todo lado?
Seria a brisa pantaneira,
Seria o mar do passado?
Chora eu,
Chora você,Por todo esse lixo
Espalhado.
O verde, cadê o verde
Dessa mata imaculada?Quem trouxe para essas margens
Tanto vidro, tanta lata?
Seria a chuva
torrente,
Seria essa correnteza?Ou seria essa rica gente
De lancha e bela viseira?
Chora eu,
Chora você,Por todo esse lixo
Espalhado.
A trilha, cadê a
trilha,
Dantes virgem,Sem desbastes?
Quem repisou estas flores,
Quem quebrou mais esse galho?
Seria a mãe sucuri
Que se arrasta com
cuidado?Ou mesmo o bicho-preguiça
Que segue no lento passo?
E a água cristalina,
De muitos tempos
passados,Quem é mesmo o responsável
Pelos lagos contaminados?
Seria a Coruja Buraqueira
Ou o pequeno João-de-Barro?
Diz a canção
pantaneira:
"Chalana, velha
Chalana,Leva por essas águas
Esse meu grito de dor
Quando vejo tanta gente
Deixando as suas sujeiras
Nesta savana multicor."
Quem sabe um dia o
turista
Possa vir a
compreenderQue mais vale a terra limpa
E a boa água de beber
Do que o lixo espalhado
Por toda essa ribanceira
Que faz desse vale encantado
Uma verdadeira lixeira.
Pantanal da minha
vida,
Meu gavião dourado.Periquito está chorando
Lá no alto da palmeira,
Olha triste, acabrunhado,
Para essa grande sujeira.
Até a onça pintada
Vai pro meio da
estrada:Quer olhar no fundo do olho
Desse bicho que se espalha
Trazendo pra nossa terra
Seus lixos, suas tralhas.
E os deuses da verde
mata,
Guardiões dessas
riquezas,Vestem luto, ficam mudos,
Com toda essa desgraçeira.
Chora Jacaré ligeiro,
Tamanduá Bandeira.Chora eu e o mundo inteiro
Por esse desastre pantaneiro.
Meu filho também
suspira,
E me pergunta
indignado:- Que herança me deixaste
Nesse Pantanal amado?
O rio, cadê o rio,
Que antes trazia vida
?A mata, cadê a mata,
Tão viçosa de outrora?
Cadê o canto das aves
Que embalava o meu sono?
Responda meu pai querido,
Por que permitiste isso?
Chora o povo da
floresta,
Chora mãe d'água
encantada,O choro dos condenados.
Aquele choro doído
Por ter seu corpo violado.
Quem será o "gran
Juiz"
Dessa peleja desigual?Não sei nem mesmo imagino
A quem caberá a decisão
De por fim a essa maldade.
Tenho, porém, no meu
peito
Uma única e grande
certeza:No dia do Gran Juízo,
Ao homem será cobrada
A conta por tudo isso.
Nessa hora, nesse dia
Este ser racional
Reconhecerá seus erros
Cometidos no Pantanal.
Fim
(João de Deus Souto Filho)
Julho/2001
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