sábado, 14 de novembro de 2015

A tragédia de Mariana: mais um desastre anunciado?

Acidente ou mal dimensionamento do projeto?

Acidente ou descumprimento de condicionantes ambientais críticas para a segurança da área?

Acidente ou falha de fiscalização?

Acidente ou irresponsabilidade e descuido com as questões ambientais?

Pelo que já foi noticiado e também pelos registros meteorológicos disponíveis, não ocorreu nenhum evento extraordinário, como por exemplo uma tempestade acompanhada de precipitação pluviométrica muito acima do normal, ou um evento sísmico de elevada magnitude, que possa ser caracterizada como causa raiz do rompimento das duas barragens. Tudo indica, pelas informações divulgadas até o momento, que o elemento causador desse grave desastre ambiental é a conjugação de fatores ainda não bem caracterizados e trazidos a público. É sabido que os dados já estão sendo levantados e que as investigações já estão em andamento, visando esclarecer o ocorrido. Essa é uma etapa normal em todo processo investigativo. E entendo que devemos esperar a conclusão do trabalhos dos especialistas para termos uma explicação técnica sobre os elementos causadores desse terrível desastre.

O Governo Federal está estabelecendo uma multa inicial de R$ 250 milhões pelo desastre ambiental causado. Segundo a presidente Dilma, que visitou a área atingida nesta semana, “As multas ambientais preliminares que estamos dando, que montam a R$ 250 milhões, são por causar poluição de rios provocando danos à saúde humana; tornar área urbana ou rural imprópria para a ocupação humana; causar poluição hídrica que leve à interrupção de abastecimento público de água; lançar resíduos em desacordo com os padrões de qualidade exigidos em lei e provocar emissão de efluentes ou carreamento de materiais que provoquem dano à biodiversidade”.

Segundo nota do Ministério do Meio Ambiente, "a empresa Samarco foi autuada por causar poluição hídrica; tornar áreas urbanas impróprias para ocupação humana; causar interrupção do abastecimento público de água; lançar resíduos em desacordo com as exigências legais; e provocar a mortandade de animais e a perda da biodiversidade ao longo do Rio Doce, resultando em risco à saúde humana".

As medidas punitivas estão sendo tomadas. Porém, entendo que devemos estar preparados para as repercussões desse rompimento das barragens nos corpos de água que foram atingidos pelos detritos desprendidos das duas áreas de contenção.

Quase toda a Bacia hidrográfica do Rio Doce foi seriamente atingida. Todo o ecossistema foi fortemente impactado. Os danos causados, numa primeira análise, podem ser irreversíveis. 

Além do fator humano, envolvendo perdas irreparáveis, toda a flora e fauna da área foi atingida, com possíveis reflexos até na região costeira do estado do Espírito Santo, já que a lama tóxica alcançará o mar dentro de mais alguns dias. 


Mais do que um caso de polícia, este evento vai exigir ações integradas das diferentes esferas de governo e também das diferentes áreas de especializações, visando a recuperação das áreas degradas. 

É uma tarefa complexa e que vai levar muito tempo, dada as dimensões da área atingida e a gravidade dos danos causados. 

Para se ter uma ideia dessa complexidade, imaginem o que deverá ocorrer quando entrarmos no próximo período chuvoso? Mais material sólido será remobilizado pelas águas superficiais, comprometendo de modo cumulativo os corpos de água já atingidos. 

O Rio Doce e muitos dos seus afluentes foram assoreados severamente. E o assoreamento de rios e riachos pode modificar toda a dinâmica de movimentação de água em uma determinada Bacia Hidrográfica. 

A impermeabilização do solo pode causar forte desequilíbrio no ciclo hidrológico, afetando também os lençóis de água subterrânea.

Recuperar a Bacia Hidrográfica do Rio Doce é uma tarefa que deverá levar décadas. Esse desastre ambiental não afetou apenas o patrimônio natural da região de Mariana. Ele ceifou vidas humanas e soterrou patrimônios familiares erguidos por várias gerações. Além do prejuízo material, a tragédia de Mariana destruiu sonhos e colocou literalmente na lama a vida de milhares de famílias.

Que a tragédia ambiental de Mariana possa modificar pelo menos, para melhor, o sistema brasileiro de monitoramento e controle de obras e estruturas que apresentem algum tipo de risco ambiental e de segurança à população.

Tudo leva a crer que a tragédia de Mariana não foi um mero acidente.

domingo, 8 de novembro de 2015

Brasil 2040 - Cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima


Adequar a infraestrutura urbana, industrial e agrícola à mudança do clima é uma tarefa desafiadora.

Em um país com dimensões continentais, como o Brasil, essa tarefa exige tempo, bom planejamento e aplicação de vultosas quantias de recursos financeiros. Também exige a implementação de projetos com visão de longo prazo.

O governo federal disponibilizou na semana passada os primeiros resultados do estudo denominado ““Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”. O objetivo desse estudo foi “estimar como as mudanças climáticas afetariam os setores econômicos em diferentes horizontes e sugerir estratégias de prevenção e de aumento de resiliência de diferentes sistemas que poderiam ser afetados”.

Todo o material produzido nesse estudo foi disponibilizado na internet para acesso público, que pode ser feito através do endereço http://www.sae.gov.br/imprensa/noticia/brasil-2040-cenarios-e-alternativas-de-adaptacao-a-mudanca-do-clima/.  Alguns dos relatórios são extensos mas vale a pena tomar conhecimento do conteúdo dos mesmos.

Várias modelagens de variação do clima foram feitas, utilizando “modelos de clima global”, e escolheu-se dois cenários distintos que “derivaram hipóteses de comportamento climático para o território brasileiro em 2040”.

Esses estudos revelaram que a mudança do clima vai provocar alterações significativas em várias regiões, a começar pelas áreas costeiras, onde existem aglomerados urbanos de grande porte, com reflexos nas condições de habitabilidade, na estrutura de transporte e armazenamento, nos portos e nos parques industriais. Uma das áreas costeiras mais impactadas será a Baixada Santista, que para sua adequação ao novo padrão climático exigirá a implementação de obras de grande porte.

Também haverá necessidade de se alterar a estrutura de armazenamento e distribuição de água potável tanto para as áreas urbanas como para suportar as atividades industriais e agrícolas, como por exemplo o reforço em barragens já existentes e a construção de novas barragens em posições estratégicas. 

Recomendamos a leitura do material gerado na terceira e quarta etapas do estudo que tratam dos seguintes pontos:

- Terceira etapa, que consistiu em "analisar os impactos sobre a população, sobre os recursos naturais e sobre alguns setores econômicos, considerando variações climáticas e disponibilidade de recursos hídricos".

- Quarta etapa, que consistiu na "identificação de algumas medidas de adaptação ao cenário associado às projeções".  

Considerando que os estudos iniciais já foram concluídos e disponibilizados, é hora de botar a mão na massa, visando a efetivação das recomendações feitas. 

A mudança climática não é mais uma hipótese futura. Ela já está acontecendo. E cada minuto perdido implica no aumento dos riscos envolvendo a nossa segurança como elementos da cadeia produtiva e cidadãos.