Uma homenagem: O menino que carregava água na peneira
Abro espaço para prestar uma homenagem ao poeta Manoel de Barros que, aos 97 anos, nos deixou órfãos de sua poesia.
Manoel de Barros era o "poeta da simplicidade", o poeta que tirava das coisas aparentemente insignificantes da natureza o vigor da sua palavra.
Ler Manoel de Barros é beber na fonte das coisas naturais
.
Com a poesia de Manoel de Barros se aprende a amar e respeitar a Natureza: a água, os seres vivos, todas as coisas que a "Mãe Terra" nos disponibiliza para a sobrevivência e para o prazer.
O poema abaixo, cujo título é "O menino que carregava água na peneira" nos dá uma ideia da força e da beleza da poesia de Manoel de Barros
Manoel de Barros era o "poeta da simplicidade", o poeta que tirava das coisas aparentemente insignificantes da natureza o vigor da sua palavra.
Ler Manoel de Barros é beber na fonte das coisas naturais
.
Com a poesia de Manoel de Barros se aprende a amar e respeitar a Natureza: a água, os seres vivos, todas as coisas que a "Mãe Terra" nos disponibiliza para a sobrevivência e para o prazer.
O poema abaixo, cujo título é "O menino que carregava água na peneira" nos dá uma ideia da força e da beleza da poesia de Manoel de Barros
O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
2 Comentários:
Maravilhoso esse poema de Manoel de Barros...maravilhosa sua lembrança ao postá-lo para nós, e mais ainda nesse grupo ONGs E AFINS, que ainda tantos membros não compreenderam seus objetivos e sua importância nesta mesma Educação que você julga tão necessária...eu também...
Estamos plantando e semeando sementes, oxalá possamos ver pelo menos uma parte da colheita...Muito grata, Elisa
Cara Elisa,
Obrigado pelas palavras de estímulo. A ideia por trás da palavra é mesmo de semeadura. Na expectativa de que algumas sementes venham a brotar, alterando comportamentos em favor da prática do saber cuidar.
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