sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Falta d'água: sete facetas de um mesmo problema

A grave crise de abastecimento de água vivenciada pelos paulistanos revela muitas facetas do gerenciamento e do uso dos recursos hídricos.
 
Primeira faceta: A noção de que os recursos hídricos são finitos não é compreendida por muitos administradores e por grande parte dos consumidores. Se entendemos que determinado recurso é infinito, não precisamos nos preocupar com ele. Boa parte da população brasileira trata a água como um recurso infinito.
 
Segunda faceta: Considerar que o clima é o único fator determinante para a disponibilização da água na quantidade que se necessita. Mais importante é saber planejar e executar no tempo certo as ações de infraestrutura, envolvendo armazenamento, tratamento e distribuição, que garantam a segurança hídrica. Obras de distribuição coletiva de água, especialmente em grandes centros urbanos, não têm condições de serem implantadas da noite para o dia.
 
Terceira faceta: Controlar o desperdício e educar para se evitar o desperdício são fatores primordiais para o uso racional da água. Um exemplo: a rede de distribuição de água na cidade de São Paulo desperdiça, só por conta de vazamentos nas tubulações, 40% da água produzida. É importante perceber que isso representa dizer que quase a metade da água disponibilizada pelo sistema de abastecimento não chega às casas dos consumidores. Aliado a isso, o desperdício de água envolvendo os consumidores, dentro das suas próprias casas, é uma realidade reconhecida por todos. A população brasileira não é educada para evitar o desperdício de água.
 
Quarta faceta: O uso político da água é criminoso e só traz prejuízos para a população. É sabido que os administradores das Concessionárias de Água, na quase totalidade dos estados brasileiros, são indicações políticas, muitas vezes descompromissados com a saúde dos Sistemas de Abastecimentos de água. No estado de São Paulo, por exemplo, muitos engenheiros sanitaristas foram substituídos por economistas e advogados, comprometendo a gestão técnica do Sistema. Como diz o velho ditado popular: cada macaco no seu galho.
 
Quinta faceta: As orientações políticas valem mais do que as orientações técnicas. Um exemplo: O risco de colapso do Sistema Cantareira foi diagnósticado em 2007. Foi encamonendado, então, um estudo técnico do problema e esse estudo só foi concluído em 2014. Tudo isso por pura ingerência política e falta de comprometimento com a adequação do Sistema de Abastecimento de água.
 
Sexta faceta: Povo desinformado é povo pouco exigente. A mídia pouco contribui para formação de uma consciência de valorização da água e de preservação dos recursos hídricos. Os governos não se preocupam com a "educação para o uso racional da água". Para termos uma população devidamente educada e consciente do seu papel com relação à preservação dos recursos hídricos é necessário um programa permanente de educação para a água. Não adianta falar da água apenas nos momentos de crise. O cidadão precisa ser transformado, através dessa educação, em um consumidor consciente que seja crítico e parceiro do Sistema de Abastecimento de Água da sua cidade.
 
Sétima faceta: Sem água, as tensões sociais aumentam. Quando falta água sofre o cidadão, sofre a família, sofre a cidade. Já foram registradas brigas em postos de venda de água mineral da grande São Paulo, em bairros onde o racionamento de água já é uma realidade. Escolas já fecharam suas portas por falta de água (não havia água nos bebedouros e nem nas descargas dos banheiros). A mídia já mostrou conflitos familiares devido a falta de água. Em suma: quando falta água a vida vira um inferno.

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