Falta d’água em São Paulo: a grande catástrofe
Primeiro foram sentidos os
incômodos da falta d’água ocasional. Água que faltava algumas horas durante o
dia. Depois foram percebidas as dificuldades de manter os hábitos de higiene em
um cenário de falta d’água mais freqüente - dia sim, dia não. Chegar em casa e
encontrar a família irritada porque estava faltando água para tomar banho ou
mesmo ter de tomar banho com um balde de água colocado no canto do banheiro.
Passaram-se os dias, semanas, meses e o quadro não se alterava: mais água que
faltava, mais gente insatisfeita.
De repente me dou conta que na
academia que freqüento não posso mais usar o bebedouro porque o prédio está sem
água. Vou ao restaurante e me deparo com um aviso na porta do toilet, onde está
escrito: desculpe pelo transtorno, fechado por falta d’água. Chego no barzinho
com um grupo de amigos e sou logo avisado de que as portas serão fechadas às
onze horas da noite porque o estabelecimento está com problemas de falta d’água.
Como não tenho água suficiente
para lavar as minhas roupas em casa, como sempre fiz, só me resta a opção de
levá-las para a lavanderia do bairro. Ao adentrar o recinto sou logo avisado de
que a lavanderia está operando com dificuldades e que só pode receber cinco
quilos de roupa de cada cliente. Escuto um cliente exaltado dizer: “Isso é um
absurdo! Onde estão os meus direitos de consumidor? Vou reclamar no PROCON!”
Das quatro sacolas que havia levado para a lavanderia, três retornam comigo
para casa.
Passo na frente da banca de revistas
e vejo estampado na primeira página do jornal: “Falta água no Hospital
Municipal – Crise da água já está prejudicando o atendimento dos pacientes e as
cirurgias estão comprometidas.”
O mundo à minha volta parece se
desmoronar. Os serviços básicos deixam de funcionar adequadamente. A creche
onde deixo o meu filho caçula já mandou um aviso de que só tem condições de
funcionar dois dias na semana. A escola dos meus filhos maiores mandou uma
circular informando que as aulas estão suspensas até que eles resolvam o
problema da falta d’água. Nos últimos dois meses a escola estava recebendo água
de caminhões pipas, mas a direção já havia comunicado que os custos dessa água
estavam muito elevados.
Ao chegar em casa, vejo na
televisão a notícia de que o corpo de bombeiros está impossibilitado de
combater o incêndio de um prédio comercial, no centro da cidade, porque falta
água nos hidrantes. Mudo de canal e sou surpreendido com a notícia de que a
polícia está tentando evitar a depredação de uma distribuidora de água mineral,
por um grupo exaltado de moradores do bairro Jardins.
Resolvo ir ao supermercado fazer
a compra da semana e percebo que os produtos estão minguando das prateleiras,
especialmente as frutas e verduras, e
que os preços dos gêneros alimentícios aumentaram significativamente. Busco uma
explicação com o gerente e ele me responde sem meias palavras: “É a falta d’água.
Os produtores alegam que todo o sistema produtivo está comprometido em função
da falta de água. Até as indústrias já estão tendo problemas.” Compro o que é
essencial e retorno para casa.
Volto cabisbaixo para casa e logo
me recolho para dormir. Antes de adormecer, reflito: - Quem sabe a água volte
amanhã?
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