sábado, 28 de fevereiro de 2015

Água: mudança de hábito por decreto

O ministério do Planejamento recomendou, através de Portaria publicada no dia 13 de fevereiro do corrente ano, que os órgãos públicos federais adotem "boas práticas" de gestão e uso de água e energia elétrica. Ontem (27/02), funcionários do Palácio do Planalto foram flagrados utilizando mangueira para limpar a calçada do prédio. Hora de nos perguntarmos: Mudar hábitos através de portaria ou decreto é uma boa estratégia?
 
Sempre defendi, e continuarei defendendo, a tese de que o melhor caminho para se alcançar boas mudanças de hábitos é através da conscientização. A mudança de hábito só ocorre de forma salutar se ela se desenvolver de dentro para fora. Alterar hábitos através da imposição, de fora para dentro, nunca me pareceu uma estratégia sustentável. 
 
Todo cidadão, ou pessoa, que tem alguma capacidade crítica, independente da faixa etária ou mesmo da condição social, só passa a atuar como agente de transformação, com postura colaborativa, se tomar consciência sobre o valor dos seus atos.
 
No que diz respeito ao uso racional de água e energia, para que se tenha um apoio maciço da população, ou melhor dizendo, dos usuários desses bens, é preciso que haja uma conscientização coletiva da importância de cada ato individual.
 
Para se conseguir essa conscientização coletiva, faz-se necessária uma ação pedagógica de longo prazo. Um trabalho continuado e permanente, voltado para todos os segmentos sociais, com foco na valorização e no uso sustentável, tanto da água quanto da energia.
 
Dada a dimensão continental do nosso país e a diversidade de ambientes sócio-econômicos, é fundamental a participação intensa da mídia nesse processo educativo. Além disso, deveria haver um trabalho pedagogicamente bem customizado nas escolas públicas e privadas. Algo que nunca foi feito no nosso país.
 
Particularmente, no que diz respeito ao uso racional da água e à preservação dos recursos hídricos, muita coisa ainda precisa ser feita. O Governo Federal, em articulação com os governos estaduais e municipais, precisa implementar um programa permanente de formação de uma "conscientização coletiva" sobre a necessidade de preservarmos os nossos Recursos Hídricos. Não estou falando aqui de uma programa educativo para aplicação exclusiva nas escolas. O programa ao qual estou me referindo deve ser muito mais abrangente, devendo envolver, além das escolas, todos os segmentos sociais, incluindo administradores e funcionários públicos, empresários e funcionários da indústria e do comércio, entidades representativas de classes profissionais, conglomerados e empresas da área de comunicação, empresários e funcionários do setor de agronegócio, enfim, toda a população brasileira.
 
Uma coisa é certa. Ainda existe no Brasil muita ignorância sobre a água. Esse que é nosso mais importante recurso natural.
 
Não custa repetir: nós só protegemos aquilo que conhecemos. Falta educação sobre a água.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Água: uma proposta para a mídia televisiva

            Todos os dias, os jornais televisivos transmitem informações sobre a meteorologia. Esse é um tema que nunca está ausente da pauta jornalística nas redes de televisão de todo o mundo. Na maioria das vezes, é reservado um tempo que varia entre quinze e sessenta segundos para apresentação da previsão do tempo em todo o país. Para muitos, isso é tratado como informação de utilidade pública, uma vez que diz respeito à nossa qualidade de vida. Como sabemos, o clima afeta diretamente o nosso conforto físico, ele é determinante para a operação de portos e aeroportos, como também interfere nas condições de fluxo de veículos nas ruas e rodovias, sem falar no seu papel fundamental para a agricultura. Daí a importância de estarmos informados sobre as condições climáticas diariamente.
            Se o clima é determinante para a manutenção da nossa qualidade de vida, o que dizer da água? Água que mata a nossa sede e que é tão fundamental para o preparo dos nossos alimentos, elemento também imprescindível para a higiene diária (individual e coletiva); água que movimenta a indústria e a agricultura; água que viabiliza o turismo; água que nos banha nesse litoral atlântico; água, agente que determina as condições de desenvolvimento de todas as civilizações. Particularmente nesse momento em que o Brasil passa por uma crise hídrica que está colocando em risco o abastecimento da nossa maior metrópole.
 
Num cenário em que, reconhecidamente, as soluções dos problemas relacionados com a recuperação e a preservação dos mananciais de água potável passam pela participação de todos os componentes da sociedade, e considerando que grande parte da população necessita ser esclarecida sobre o valor desse bem natural, cabe uma reflexão sobre a contribuição que a mídia televisiva pode dar no sentido de formar uma consciência de valorização da água.
Tomando como referência o aumento significativo de programas jornalísticos especializados em violência urbana, que nos bombardeiam diariamente com informações sobre assassinatos, acidentes de trânsito, assaltos à mão armada, tráfico de drogas, crimes de todas as espécies, sob o rótulo de “jornalismo verdade”, somos levados a questionar: existe algum espaço para iniciarmos um processo de conscientização da população sobre a necessidade de preservarmos os nossos recursos hídricos, cada vez mais escassos?
Por que não pensarmos na possibilidade de inovação do jornalismo, abrindo um espaço permanente, nos jornais televisivos, de informações sobre a água? Segue, pois, a nossa proposta: reservar trinta segundos do tempo total dos programas jornalísticos (Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Band, Jornal do SBT e demais Jornais Locais) para transmitir informações sobre o tema “água”, nos mesmos moldes do que é feito para a meteorologia. Agindo assim, as empresas de televisão estariam prestando um serviço importantíssimo para a sociedade, promovendo uma verdadeira revolução em termos de formação de uma consciência cidadã sobre o valor da água. Essa construção de uma nova consciência coletiva de preservação ambiental se daria em doses homeopáticas, com trinta segundos de informações diárias transmitidas para milhares de residências em todo o território nacional. Com a ressalva de que não seriam necessárias alterações significativas na programação jornalística atualmente praticada pelas empresas de televisão.
Temas como gerenciamento de recursos hídricos, tipos de agentes poluentes das nossas águas, desperdício, reuso da água, balneabilidade, custo da água distribuída para a população, características e importância das nossas águas subterrâneas, formas de participação do cidadão comum no processo de preservação ambiental, uso racional dos recursos hídricos, dentre tantos outros assuntos, passariam a ser de domínio público. Através das informações sobre a água, estaríamos promovendo um diferencial no jornalismo brasileiro. E esse diferencial seria o catalisador das mudanças que nos conduziriam para um futuro mais digno e verdadeiramente participativo no processo de construção do desenvolvimento sustentável almejado por todos.

 
(*) Artigo retirado e adaptado do livro "Pedagogia da Água". Autor: João de Deus Souto Filho.