terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Água: uma proposta para a mídia televisiva

            Todos os dias, os jornais televisivos transmitem informações sobre a meteorologia. Esse é um tema que nunca está ausente da pauta jornalística nas redes de televisão de todo o mundo. Na maioria das vezes, é reservado um tempo que varia entre quinze e sessenta segundos para apresentação da previsão do tempo em todo o país. Para muitos, isso é tratado como informação de utilidade pública, uma vez que diz respeito à nossa qualidade de vida. Como sabemos, o clima afeta diretamente o nosso conforto físico, ele é determinante para a operação de portos e aeroportos, como também interfere nas condições de fluxo de veículos nas ruas e rodovias, sem falar no seu papel fundamental para a agricultura. Daí a importância de estarmos informados sobre as condições climáticas diariamente.
            Se o clima é determinante para a manutenção da nossa qualidade de vida, o que dizer da água? Água que mata a nossa sede e que é tão fundamental para o preparo dos nossos alimentos, elemento também imprescindível para a higiene diária (individual e coletiva); água que movimenta a indústria e a agricultura; água que viabiliza o turismo; água que nos banha nesse litoral atlântico; água, agente que determina as condições de desenvolvimento de todas as civilizações. Particularmente nesse momento em que o Brasil passa por uma crise hídrica que está colocando em risco o abastecimento da nossa maior metrópole.
 
Num cenário em que, reconhecidamente, as soluções dos problemas relacionados com a recuperação e a preservação dos mananciais de água potável passam pela participação de todos os componentes da sociedade, e considerando que grande parte da população necessita ser esclarecida sobre o valor desse bem natural, cabe uma reflexão sobre a contribuição que a mídia televisiva pode dar no sentido de formar uma consciência de valorização da água.
Tomando como referência o aumento significativo de programas jornalísticos especializados em violência urbana, que nos bombardeiam diariamente com informações sobre assassinatos, acidentes de trânsito, assaltos à mão armada, tráfico de drogas, crimes de todas as espécies, sob o rótulo de “jornalismo verdade”, somos levados a questionar: existe algum espaço para iniciarmos um processo de conscientização da população sobre a necessidade de preservarmos os nossos recursos hídricos, cada vez mais escassos?
Por que não pensarmos na possibilidade de inovação do jornalismo, abrindo um espaço permanente, nos jornais televisivos, de informações sobre a água? Segue, pois, a nossa proposta: reservar trinta segundos do tempo total dos programas jornalísticos (Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Band, Jornal do SBT e demais Jornais Locais) para transmitir informações sobre o tema “água”, nos mesmos moldes do que é feito para a meteorologia. Agindo assim, as empresas de televisão estariam prestando um serviço importantíssimo para a sociedade, promovendo uma verdadeira revolução em termos de formação de uma consciência cidadã sobre o valor da água. Essa construção de uma nova consciência coletiva de preservação ambiental se daria em doses homeopáticas, com trinta segundos de informações diárias transmitidas para milhares de residências em todo o território nacional. Com a ressalva de que não seriam necessárias alterações significativas na programação jornalística atualmente praticada pelas empresas de televisão.
Temas como gerenciamento de recursos hídricos, tipos de agentes poluentes das nossas águas, desperdício, reuso da água, balneabilidade, custo da água distribuída para a população, características e importância das nossas águas subterrâneas, formas de participação do cidadão comum no processo de preservação ambiental, uso racional dos recursos hídricos, dentre tantos outros assuntos, passariam a ser de domínio público. Através das informações sobre a água, estaríamos promovendo um diferencial no jornalismo brasileiro. E esse diferencial seria o catalisador das mudanças que nos conduziriam para um futuro mais digno e verdadeiramente participativo no processo de construção do desenvolvimento sustentável almejado por todos.

 
(*) Artigo retirado e adaptado do livro "Pedagogia da Água". Autor: João de Deus Souto Filho.

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