Água: uma proposta pedagógica
A crise hídrica que o Brasil está passando revela que falta educação sobre a água. O
desperdício, a degradação dos mananciais, o saneamento deficiente, as
inundações, o racionamento forçado, as ligações clandestinas, as ocupações de
áreas críticas, o desmatamento descontrolado, o assoreamento dos rios, a crise
da água nos centros urbanos, a falta de colaboração das pessoas na busca do uso
sustentável dos recursos naturais são reflexos do nosso desconhecimento sobre o
bem “ÁGUA”. Cuidar da preservação dos recursos hídricos é tarefa de todos. E
nós só protegemos aquilo que conhecemos. Daí a necessidade de pensarmos uma
“Pedagogia da Água”.
Considero
pouco eficazes as campanhas do tipo "semana da
água". Acredito mais no trabalho permanente e cotidiano de formação de uma
consciência de cuidado com a água, que conduza à mudança de comportamento.
Comungo com a afirmação da professora Sâmia Maria, que diz para os seus alunos:
"Vocês discutem Amazônia na universidade, mas não sabem usar o banheiro em
casa".
Precisamos pensar nos analfabetos em água: naquelas pessoas que
não enxergam valor na água; naqueles indivíduos que não se preocupam sequer em
saber de onde vem a água que abastece a sua residência; nos empresários que
ainda imaginam que a água é um bem infinito; nas donas de casa e nos pais de
família que não evitam o desperdício; no contingente gigantesco de pessoas que
não têm noção do que seja reuso da água; nos administradores que não cuidam da
água como um bem público de primeiríssima necessidade.
Precisamos abandonar o paradigma de que só aos professores de
ciências cabe abordar o tema “água” em sala de aula. Os educadores, sem
exceção, precisam incluir nos seus programas a temática água como material de
trabalho e debate. Com criatividade e ousadia é possível abordar o tema água em
disciplinas como português, matemática, biologia, história, geografia, física e
química. Não devemos, porém, nos ocupar apenas dos aspectos conceituais
relacionados com o elemento água ou com a mera distribuição geográfica dos
recursos hídricos no planeta. A mudança está justamente aí. Precisamos, como
educadores e formadores de opinião, possibilitar uma discussão ampla e profunda
sobre o papel da água nas nossas vidas, sobre a importância da água para as
comunidades, sobre o efeito da água na nossa qualidade de vida, enfim, sobre o
valor da água como elemento fundamental para a vida no planeta.
Nas universidades, onde são preparados os profissionais para o
mercado de trabalho, onde são conduzidas as pesquisas e onde é sedimentado o
conhecimento científico da sociedade, precisamos viabilizar a “revolução das
águas”. A água deve permear todas as áreas e especializações da Academia. Os
professores das ciências exatas e da terra, das ciências humanas, das ciências
biológicas, enfim, de todas as áreas do conhecimento, devem estabelecer uma
estratégia integrada de divulgação do saber sobre a água. O intercâmbio entre
os departamentos e as coordenadorias de cursos deve ser perseguido, como forma
de viabilizar uma troca de experiências salutar e criadora de um novo
paradigma. Precisamos, verdadeiramente, universalizar os conhecimentos sobre
este bem que é fundamental para a nossa qualidade de vida, para o
desenvolvimento sustentável tão almejado por todos. Vamos construir juntos a
pedagogia da água. Ganharemos todos com essa iniciativa.
Retirado do livro "Pedagogia da Água".
Autor: João de Deus Souto Filho
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