sábado, 31 de janeiro de 2015

Água: uma proposta pedagógica

            A crise hídrica que o Brasil está passando revela que falta educação sobre a água. O desperdício, a degradação dos mananciais, o saneamento deficiente, as inundações, o racionamento forçado, as ligações clandestinas, as ocupações de áreas críticas, o desmatamento descontrolado, o assoreamento dos rios, a crise da água nos centros urbanos, a falta de colaboração das pessoas na busca do uso sustentável dos recursos naturais são reflexos do nosso desconhecimento sobre o bem “ÁGUA”. Cuidar da preservação dos recursos hídricos é tarefa de todos. E nós só protegemos aquilo que conhecemos. Daí a necessidade de pensarmos uma “Pedagogia da Água”. 
Considero pouco eficazes as campanhas do tipo "semana da água". Acredito mais no trabalho permanente e cotidiano de formação de uma consciência de cuidado com a água, que conduza à mudança de comportamento. Comungo com a afirmação da professora Sâmia Maria, que diz para os seus alunos: "Vocês discutem Amazônia na universidade, mas não sabem usar o banheiro em casa".

Precisamos pensar nos analfabetos em água: naquelas pessoas que não enxergam valor na água; naqueles indivíduos que não se preocupam sequer em saber de onde vem a água que abastece a sua residência; nos empresários que ainda imaginam que a água é um bem infinito; nas donas de casa e nos pais de família que não evitam o desperdício; no contingente gigantesco de pessoas que não têm noção do que seja reuso da água; nos administradores que não cuidam da água como um bem público de primeiríssima necessidade.

Precisamos abandonar o paradigma de que só aos professores de ciências cabe abordar o tema “água” em sala de aula. Os educadores, sem exceção, precisam incluir nos seus programas a temática água como material de trabalho e debate. Com criatividade e ousadia é possível abordar o tema água em disciplinas como português, matemática, biologia, história, geografia, física e química. Não devemos, porém, nos ocupar apenas dos aspectos conceituais relacionados com o elemento água ou com a mera distribuição geográfica dos recursos hídricos no planeta. A mudança está justamente aí. Precisamos, como educadores e formadores de opinião, possibilitar uma discussão ampla e profunda sobre o papel da água nas nossas vidas, sobre a importância da água para as comunidades, sobre o efeito da água na nossa qualidade de vida, enfim, sobre o valor da água como elemento fundamental para a vida no planeta.

Nas universidades, onde são preparados os profissionais para o mercado de trabalho, onde são conduzidas as pesquisas e onde é sedimentado o conhecimento científico da sociedade, precisamos viabilizar a “revolução das águas”. A água deve permear todas as áreas e especializações da Academia. Os professores das ciências exatas e da terra, das ciências humanas, das ciências biológicas, enfim, de todas as áreas do conhecimento, devem estabelecer uma estratégia integrada de divulgação do saber sobre a água. O intercâmbio entre os departamentos e as coordenadorias de cursos deve ser perseguido, como forma de viabilizar uma troca de experiências salutar e criadora de um novo paradigma. Precisamos, verdadeiramente, universalizar os conhecimentos sobre este bem que é fundamental para a nossa qualidade de vida, para o desenvolvimento sustentável tão almejado por todos. Vamos construir juntos a pedagogia da água. Ganharemos todos com essa iniciativa.

Retirado do livro "Pedagogia da Água".
Autor: João de Deus Souto Filho

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