Água: um balanço de fim de ano
Último dia do ano de 2014. Final do décimo quinto ano do século 21. Terceiro século de debate sobre a questão da seca no nordeste brasileiro.
Olhando o mapa do Brasil, podemos observar que os grandes aglomerados urbanos e industriais se desenvolveram à margem de algum corpo de água (rio ou lagoa). O tempo passou e a quase totalidade desses rios e lagoas foram degradados pelas comunidades que se abasteciam dessas fontes de água potável. Hoje, as grandes metrópoles brasileiras, sem excessão, apresentam problemas de déficit hídrico.
Durante muitos anos se divulgou, nas escolas e na mídia, que no Brasil o problema da seca só atingia o Nordeste.
Nos últimos anos o "flagelo da seca" começou a alcançar de forma mais contundente parte das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Nesse mesmo período também se verificou a ampliação das áreas desertificadas no Nordeste. Esse fato, essa mudança no padrão de disponibilização de água no Brasil, tem sido pouco percebido pela maioria da população.
Em 2014, ocorreu a grande estiagem no estado de São Paulo, que quase levou ao colapso o sistema de abastecimento de água da Região Metropolitana da capital paulista. A maior cidade da América do Sul se viu diante da sua maior crise de falta de água. Em função dessa crise, o poder público se viu forçado a desencadear uma campanha de "economia do uso da água" pela população paulistana, que incluiu descontos na "conta d'agua" para aqueles usuários que reduzissem o consumo de água. Ao longo de 2014, com a crise já instalada, o que se viu foi uma população desinformada e despreparada para atuar como agente ativo nas ações voltadas para o uso racional da água e combate ao desperdício, enquando os administradores públicos buscavam soluções paliativas para amenizar o problema.
Essa mesma crise revelou o quanto estamos longe de ter uma sociedade que tenha desenvolvida a "consciência de valorização e preservação dos recursos hídricos".
Essa crise demonstrou mais uma vez que o país precisa de uma "Pedagogia da Água", que seja aplicada nas escolas, nos lares, nas fábricas, nos órgãos administrativos, nas empresas de comunicação, enfim, em todos os segmentos econômicos e sociais.
O problema da água só será resolvido com a participação de todos, fornecedores e usuários de água. A questão do desperdício, por exemplo, nunca será resolvida sem a participação consciente de todos os cidadãos, de todas as classes sociais. Os agentes públicos e as empresas distribuidoras de água só atuarão adequadamente, no planejamento e na implantação da infraestrutura de coleta, armazenamento, tratamento e disponibilização de água se a sociedade organizada souber exigir os seus direitos.
Me preocupa o fato de que com as chuvas desse final de ano, volte ao consciente coletivo a ideia de que a solução para o problema da falta d'água continuará nas mãos de São Pedro.
Que as lições de 2014 sejam utilizadas para a construção de uma consciência coletiva de valorização e preseração da água. E que essa conscientização seja a mola mestra para a implementação de ações que objetivem trazer segurança hídrica para todos os brasileiros.
Feliz 2015 para todos nós.
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