Água: o fluido divino
Desde os tempos que precederam o Cristianismo, a água tem exercido o
seu papel de agente purificador, depurando as sujeiras, materiais e
espirituais, produzidas pelo ser humano. Ao longo da história, a água tem sido
utilizada como o fluido divino que participa dos rituais de iniciação, de
celebração e de culto ao sagrado. O batismo, que representa um renascer
espiritual, associado com a purificação de todas as culpas e pecados, é feito
com água. Na cerimônia litúrgica do lava-pés, lá está ela mais uma vez
desempenhando o seu papel de agente purificador. E quando chega a morte do
corpo físico, somos banhados e benzidos com a água da despedida desse mundo
material do qual nos desligamos.
Quando
estamos sendo preparados para a vida terrena, nos ventres de nossas mães,
ficamos nove meses imersos no líquido amniótico, que é composto essencialmente
por água. Ao nascermos, nossa primeira higiene é feita com esse fluido
maravilhoso que nos acompanhará por toda a nossa existência. Além de sermos
“filhos da água”, somos água por excelência, uma vez que nosso corpo é
constituído na sua maior parte por moléculas de água. Somos na verdade
reservatórios de água que participam do ciclo hidrológico, pois somos
consumidores, armazenadores e produtores de água.
Fonte
da vida, a água foi o elemento-chave para tornar o nosso planeta habitável. Ela
também atua como principal agende modelador da face do planeta, criando
paisagens que nos deliciam e dão prazer: o recorte das montanhas, o desenho dos
vales, as escarpas litorâneas, as enseadas paradisíacas, as cavernas e suas
formas sutis são produtos da ação da água sobre a superfície do planeta,
atuando como o cinzel do Criador.
A natureza fluídica da água lhe concede
características muito especiais. As grandes massas d’água (os rios, os lagos,
os mares e os oceanos) são como mantos sagrados que recobrem o corpo da mãe
terra. A água envolve desde os grandes blocos de rochas até os minúsculos grãos
de areia que compõem o leito dos rios, como se fossem mãos delicadas
acariciando o filho querido. E sentimos essa sensação de aconchego quando nos
colocamos debaixo do chuveiro ou quando nos banhamos numa lagoa, ou mesmo
quando mergulhamos nesse mar atlântico da costa brasileira. As águas do nosso
convívio diário são as mãos de Deus que nos afagam durante o banho, que nos
alivia das dores, que nos livra das impurezas.
Se,
através da religião, nos aproximamos do divino, através do uso descuidado da
água nos aproximamos do profano. No momento em que vivenciamos a crise da água no Brasil, é fundamental que reflitamos sobre
as nossas relações para com esse líquido tão precioso. Como nos relacionamos
com a água do nosso dia-a-dia? Como nos posicionamos diante da degradação dos
nossos mananciais de água potável? De que forma contribuímos para o desperdício
de um bem que está se tornando cada vez mais escasso? Enfim, como temos nos
posicionado, com respeito às questões de preservação e valorização da água?
Temos adotado uma postura omissa? Temos atuado como agentes poluidores? Temos
tido apenas uma postura contemplativa diante da água?
Se almejamos um futuro melhor para nossos
filhos e netos, se verdadeiramente acreditamos na possibilidade de alteração do
curso da história, em termos das agressões ambientais e da degradação dos
nossos recursos hídricos, precisamos agir. Partindo de uma mudança de postura
individual, alcançaremos o coletivo com mais força e representatividade. Nessa
questão não existe meio termo, somos todos responsáveis. É fundamental que
coloquemos em prática a filosofia do saber cuidar. Bem aventurados aqueles que
participarem ativamente desta revolução que se inicia, da revolução pela preservação
e valorização da água.
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