segunda-feira, 19 de maio de 2014

Água: o fluido divino

            Desde os tempos que precederam o Cristianismo, a água tem exercido o seu papel de agente purificador, depurando as sujeiras, materiais e espirituais, produzidas pelo ser humano. Ao longo da história, a água tem sido utilizada como o fluido divino que participa dos rituais de iniciação, de celebração e de culto ao sagrado. O batismo, que representa um renascer espiritual, associado com a purificação de todas as culpas e pecados, é feito com água. Na cerimônia litúrgica do lava-pés, lá está ela mais uma vez desempenhando o seu papel de agente purificador. E quando chega a morte do corpo físico, somos banhados e benzidos com a água da despedida desse mundo material do qual nos desligamos.

Quando estamos sendo preparados para a vida terrena, nos ventres de nossas mães, ficamos nove meses imersos no líquido amniótico, que é composto essencialmente por água. Ao nascermos, nossa primeira higiene é feita com esse fluido maravilhoso que nos acompanhará por toda a nossa existência. Além de sermos “filhos da água”, somos água por excelência, uma vez que nosso corpo é constituído na sua maior parte por moléculas de água. Somos na verdade reservatórios de água que participam do ciclo hidrológico, pois somos consumidores, armazenadores e produtores de água.

Fonte da vida, a água foi o elemento-chave para tornar o nosso planeta habitável. Ela também atua como principal agende modelador da face do planeta, criando paisagens que nos deliciam e dão prazer: o recorte das montanhas, o desenho dos vales, as escarpas litorâneas, as enseadas paradisíacas, as cavernas e suas formas sutis são produtos da ação da água sobre a superfície do planeta, atuando como o cinzel do Criador.

            A natureza fluídica da água lhe concede características muito especiais. As grandes massas d’água (os rios, os lagos, os mares e os oceanos) são como mantos sagrados que recobrem o corpo da mãe terra. A água envolve desde os grandes blocos de rochas até os minúsculos grãos de areia que compõem o leito dos rios, como se fossem mãos delicadas acariciando o filho querido. E sentimos essa sensação de aconchego quando nos colocamos debaixo do chuveiro ou quando nos banhamos numa lagoa, ou mesmo quando mergulhamos nesse mar atlântico da costa brasileira. As águas do nosso convívio diário são as mãos de Deus que nos afagam durante o banho, que nos alivia das dores, que nos livra das impurezas.

Se, através da religião, nos aproximamos do divino, através do uso descuidado da água nos aproximamos do profano. No momento em que vivenciamos a crise da água no Brasil, é fundamental que reflitamos sobre as nossas relações para com esse líquido tão precioso. Como nos relacionamos com a água do nosso dia-a-dia? Como nos posicionamos diante da degradação dos nossos mananciais de água potável? De que forma contribuímos para o desperdício de um bem que está se tornando cada vez mais escasso? Enfim, como temos nos posicionado, com respeito às questões de preservação e valorização da água? Temos adotado uma postura omissa? Temos atuado como agentes poluidores? Temos tido apenas uma postura contemplativa diante da água?

 Se almejamos um futuro melhor para nossos filhos e netos, se verdadeiramente acreditamos na possibilidade de alteração do curso da história, em termos das agressões ambientais e da degradação dos nossos recursos hídricos, precisamos agir. Partindo de uma mudança de postura individual, alcançaremos o coletivo com mais força e representatividade. Nessa questão não existe meio termo, somos todos responsáveis. É fundamental que coloquemos em prática a filosofia do saber cuidar. Bem aventurados aqueles que participarem ativamente desta revolução que se inicia, da revolução pela preservação e valorização da água.

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