Chuvas e melhorias nas cidades
A
chuva põe à tona as mazelas da cidade. Todo o lixo escondido embaixo do tapete,
a falta de cuidado com a coisa pública, as obras prometidas e não realizadas, o
descuido com a infra-estrutura da cidade, o descontrole da ocupação dos espaços
nas áreas urbanas, tudo isso explode, como problema que afeta a todos, quando
chove um pouco acima da conta.
Na semana que passou, algumas cidades do sudeste
experimentaram mais uma crise urbana. Não foram as crises da violência, da
saúde, da educação, que já se transformaram em rotina, desta vez foi a crise da
água em excesso. Nestas situações de muita chuva, a culpa recai sobre São
Pedro, como se o santo que guarda as chaves do Céu quisesse nos castigar.
Como
nordestino oriundo do interior, carrego comigo os ensinamentos de meu avô José,
lavrador criado sob o sol escaldante do sertão paraibano, que sabiamente dizia:
a chuva é uma dádiva de Deus, um presente
da natureza, e ela é sempre bem vinda porque sem ela perdemos a alegria de
viver. Com meu saudoso avô, José Souto, também aprendi que a água bem
gerenciada nunca se constitui em problema, ela sempre pode ser aproveitada para
o bem comum. Essa regra simples tem aplicação tanto no campo quanto na cidade.
Os
casos ocorridos em São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória, replicam a situação das
demais metrópoles brasileiras, que não estão preparadas para conviver com
chuvas torrenciais ou períodos chuvosos prolongados. E esta realidade reflete o
descaso dos administradores públicos com o planejamento urbano, que necessita
de projetos com visão de longo prazo, envolvendo a realização de obras de
infra-estrutura e de ordenamento da ocupação dos espaços, que garantam o bem
estar e a segurança dos habitantes das cidades.
O
gerenciamento da cidade passa pelo gerenciamento das águas superficiais e
subterrâneas, o que inclui o gerenciamento das águas de chuva. Em suma, as
dificuldades enfrentadas por nós nos períodos chuvosos não é um problema de
excesso chuva, mas sim um problema de falta de ação preventiva, ou melhor
dizendo, de adequação das obras de escoamento e armazenamento das águas
pluviais à fisiografia e geologia da
cidade.
Se fôssemos apanhados a cada vinte anos por uma
anomalia climática que provocasse chuvas fora do padrão normal, até que poderíamos
aceitar a justificativa de que a cidade não estava preparada para tal.
Acontece, no entanto, que todos os anos convivemos com os mesmos tipos de
problemas provocados pelas águas do inverno ou mesmo pelas águas do verão,
quais sejam: alagamentos, transtornos de tráfego, isolamento de trechos da
cidade, buracos na via pública, desmoronamentos e tantos outros.
Essa repetição
anual de fatos altamente previsíveis revela a falta de interesse dos
administradores públicos em aplicar o conceito de “ação preventiva”.
O que presenciamos, na realidade, é apenas a implementação de ações corretivas.
Falta para a cidade um “plano de manutenção e melhorias”, de
aplicação permanente e com visão de longo prazo. As cidades não podem viver de
“operações tapa-buracos” ou de “obras emergenciais”
que se repetem anualmente. Este ciclo vicioso só gera transtornos para o
cidadão e prejuízos para os cofres públicos.
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