sábado, 16 de junho de 2012

Rio+20 e a Pedagogia da Água

     Existe muita expectativa quanto aos resultados da Conferência Rio+20. Para muitos, a Conferência só valerá a pena se forem firmados acordos de peso, referendados pelas nações que comandam a economia mundial. Esperam-se medidas de grande abrangência, que garantam o crescimento sustentável das nações sem comprometimento com a saúde do planeta. Quanto a tais expectativas não tenho muitas esperanças, visto que passados vinte anos da Rio92 pouco foi feito em escala global, com apoio real das grandes nações, visando a correção de erros seculares que vêm sendo cometidos com respeito à preservação ambiental. Seria muito bom se a Rio+20, ao invés de centrar fogo nas questões globais, desse atenção especial às questões pequenas, onde tudo começa. Se, ao invés de focar as nações, as grandes empresas, os grandes empreendimentos, fosse dada atenção ao indivíduo e seus atos cotidianos teríamos resultados mais concretos. Seria para mim muito mais proveitosa a Rio+20 se fosse iniciado um trabalho educativo de massa voltado para o ato de “saber cuidar”.

     Poderia ser tomada como ponto de partida a Água, pois falta educação sobre a água. Quando analisamos a questão ambiental, tendo como pano de fundo a água, observamos que o desperdício, a degradação dos mananciais, a deficiência nos sistemas de saneamento básico, as inundações recorrentes, as ocupações de áreas críticas, o assoreamento dos rios, a crise da água nos centros urbanos, é resultado do desconhecimento da maioria das pessoas sobre o bem “Água”. Como nós só protegemos aquilo que conhecemos, é fundamental o desenvolvimento da “Pedagogia da Água”.

     Precisamos iniciar um trabalho de aplicação permanente e cotidiano voltado para a formação de uma consciência de cuidado com a água, que conduza à mudança de comportamento. Precisamos pensar nos analfabetos em água: naquelas pessoas que não enxergam valor na água de cada dia; naqueles indivíduos que não se preocupam sequer em saber de onde vem a água que abastece a sua residência; nos empresários que ainda imaginam que a água é um bem infinito; nas donas de casa e nos pais de família que não evitam o desperdício; no contingente gigantesco de pessoas que não têm noção do que seja reuso da água; nos administradores que não cuidam da água como um bem público de primeiríssima necessidade.

     Precisamos abandonar o paradigma de que só aos professores de ciências cabe abordar o tema “água” em sala de aula. Os educadores, sem exceção, precisam incluir nos seus programas a temática água como material de trabalho e debate. Com criatividade e ousadia é possível abordar o tema água em disciplinas como português, matemática, biologia, história, geografia, física e química. Não devemos, porém, nos ocupar apenas dos aspectos conceituais relacionados com o elemento água ou com a mera distribuição geográfica dos recursos hídricos no planeta. A mudança está justamente aí. Precisamos preparar os nossos educadores e formadores de opinião para atuarem como catalisadores de um debate amplo e profundo sobre o papel da água nas nossas vidas, sobre a importância da água para as comunidades, enfim, sobre o valor da água como elemento fundamental para a vida no planeta.

     Nas universidades, onde são preparados os profissionais para o mercado de trabalho, onde são conduzidas as pesquisas e onde é sedimentado o conhecimento científico da sociedade, assim como nas escolas de todos os níveis, precisamos viabilizar a “revolução das águas”. A água deve permear todas as áreas do conhecimento compartilhado. Os professores das ciências exatas e da terra, das ciências humanas, das ciências biológicas, enfim, de todas as áreas do conhecimento, devem estabelecer uma estratégia integrada de divulgação do saber sobre a água. Precisamos, verdadeiramente, universalizar os conhecimentos sobre este bem que é fundamental para a nossa qualidade de vida, para o desenvolvimento sustentável tão almejado por todos. Se a Rio+20 deixar como legado a “Pedagogia da Água” terá cumprido o seu papel como agente de transformação da sociedade mundial.

1 Comentários:

Às 16 de junho de 2012 às 14:42 , Blogger Tainá Bimbati disse...

Só que sem responsabilidade social e ambiental e uma política pública socioambiental que dê conta de COBRAR e IMPOR esta RSA dos grandes países e governos, não vamos NUNCa ter uma ecopedagogia CRÍTICA e EMANCIPATÓRIA.
A RIO + 20 deveria ser como Marina Silva falou, de reflexões e mudanças a partir de um DIAGNÓSTICO de cada país, povo e região...mas foram pra lá SEM diagnóstico... sem dar continuidade à ECO 92 . Vamos ver como se coloca a Cúpula dos Povos!

 

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