Água: entre o pensar e o agir
Existe uma distância muito grande entre o pensar e o agir. As conquistas obtidas pelo ser humano estão intimamente relacionadas com a sua capacidade de ação, com a sua capacidade de pôr em prática aquilo que um dia foi apenas uma idéia, ou mesmo uma intenção, seja no campo material, seja no universo intelectual. Da mesma forma que o ato de construir está relacionado com o agir, o ato de proteger, de preservar, também se relaciona com as ações adotadas por um indivíduo ou por um grupo.
Nós não protegemos os nossos filhos apenas com vontade, nós agimos no sentido de viabilizarmos essa proteção. Como os nossos filhos são prioritários para nós, realizamos tarefas e empreendemos ações que se traduzem no ato de proteger. Quem não age assim, transferindo essa responsabilidade para outros, acaba criando condições inseguras para os seus entes queridos. Em casos extremos, os filhos sucumbem por pura falta de proteção.
Na questão ambiental, esse fato se repete. Proteger os recursos naturais implica, necessariamente, realizar ações de proteção. Ações estas que podem se desenvolver nas mais diferentes escalas. Elas podem se iniciar dentro das nossas casas, com as orientações que damos aos nossos filhos sobre higiene e bons costumes, e se estender até a implantação de grandes projetos de recuperação e preservação de rios e lagoas.
Analisemos mais detidamente essa questão relacionada com a proteção dos mananciais de água potável. A quem cabe o papel de protetor dos recursos hídricos, da água nossa de cada dia? Cabe ao governo, única e exclusivamente, como representante do interesse comum? Cabe aos técnicos, donatários do conhecimento especializado e desenvolvedores da tecnologia? Cabe aos empresários, como geradores de riqueza e produtores de resíduos danosos ao meio ambiente? Ou cabe aos cidadãos, usuários desse recurso fundamental para a manutenção da qualidade de vida em todos os recantos do planeta? Quem deve agir, em última instância, no sentido de viabilizar a preservação da água? As respostas para tais questionamentos nos conduzem para uma única conclusão: a proteção da água é uma responsabilidade de todos os segmentos da sociedade. Mais do que um ato coletivo, ela é um exercício de cidadania.
Por ser o ato de proteger um processo que passa pelo indivíduo, esse mesmo indivíduo necessita tomar consciência do seu papel como agente de proteção. E essa tomada de consciência será a mola propulsora que transformará a vontade (a mera intenção) no ato efetivo de proteger. Conforme tem demonstrado a história da civilização, muita coisa que poderia ser feita para a preservação da água não se concretiza porque fica restrita ao campo do pensar. Se não podemos realizar determinadas ações, por falta de capacitação ou recursos, necessitamos atuar como vetores para que as mesmas aconteçam. E isso é uma forma de agir. Principalmente nos tempos atuais, quando dispomos de inúmeros mecanismos legais para exigirmos o cumprimento dos nossos direitos como cidadãos. Preservar o meio ambiente, por exemplo, exige a participação de todos os segmentos da sociedade. Ninguém deve se sentir incapacitado para desenvolver ações de proteção. Está na hora de encurtarmos a distância entre o pensar e o agir. O planeta corre perigo.
Retirado do livro "Pedagogia da Água".
Autor: João de Deus Souto Filho
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