terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Aprendendo com as chuvas

O país parece estar debaixo d’água. As chuvas castigam o Brasil de norte a sul, particularmente nos centros urbanos: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, são alguns exemplos de cidades que estão enfrentado sérios problemas com as águas de janeiro. A defesa civil e o corpo de bombeiros têm trabalhado freneticamente para atender as vítimas das enchentes que estão virando lugar comum nesse início de ano. Diante de tantos estragos, de tantos prejuízos materiais e perdas de vidas humanas, somos levados a refletir sobre o tema: o que precisamos aprender com as chuvas? O que está acontecendo de errado? O que estamos presenciando é apenas uma questão de distúrbio meteorológico? Por que as nossas cidades não suportam chuvas torrenciais? As autoridades (municipais, estaduais e federais), em articulação com a comunidade científica, e as entidades que atuam diretamente no processo de ocupação dos centros urbanos (Secretarias de Planejamento, CREAs, Sindicatos da Construção Civil etc) precisam apresentar propostas urgentes para a solução dos problemas ligados às chuvas.
As cidades precisam ser repensadas quanto aos seus sistemas de coleta e armazenamento de águas pluviais. Todos os segmentos sociais precisam estar envolvidos nessa maratona de readequação dos centros urbanos. A população, o cidadão comum, também precisa participar desse processo. Temos que aprender com as chuvas. As enchentes, os alagamentos, associados a prejuízos materiais, são exemplos típicos de problemas cujas causas são de caráter ambiental. As cidades, via de regra, foram implantadas ou se expandiram, desrespeitando os condicionantes ambientais das áreas urbanizadas (morfologia do terreno, tipo de solo, vegetação, capacidade de armazenamento e transferência dos mananciais de águas superficiais): na maioria dos casos predominou a ganância dos especuladores imobiliários, promovendo a ocupação de áreas ambientalmente sensíveis; as preocupações com o estético orientaram os planos diretores, em detrimento da adequabilidade das obras de engenharia; o descaso com o problema da impermeabilização do solo sempre foi evidente, e a falta de programas permanentes de esclarecimento da população, quanto à preservação do meio ambiente, é a marca das administrações municipais no Brasil. Resultado: a cada período de chuva, os problemas se avolumam, os prejuízos aumentam, e os responsáveis pelo gerenciamento urbano ficam a colocar a culpa em São Pedro.
Precisamos, sim, aprender com as chuvas. Talvez elas estejam a nos dizer insistentemente que a natureza já está cansada de tantos erros cometidos por nós, seres racionais. Ela está nos devolvendo, na forma de enchentes e desabamentos, tudo aquilo de errado que temos feito, em termos de ocupação dos espaços nas áreas urbanas.

Retirado do livro "Pedagogia da Água"
Autor: João de Deus Souto Filho

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