terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Desperdício: quem leva esse problema a sério?

Dizem que o desperdício é a marca dos tempos atuais. A sociedade moderna construiu, neste último século, a cultura do consumo desenfreado, fruto das facilidades disponibilizadas pelo avanço tecnológico conseguido particularmente no período pós Segunda Guerra. Nas décadas de 80 e 90 do século passado, a palavra da moda foi “descartável”. Fomos, literalmente, engolidos pela onda do produto descartável e, como conseqüência disso, vivenciamos a implantação de um novo componente cultural: o desperdício.
Hoje, podemos dizer que o grupo de pessoas preocupado seriamente com este grave desvio de comportamento constitui uma minoria da sociedade. Para se ter uma idéia da gravidade do problema, estudos recentes demonstram que no Brasil o desperdício de alimentos é da ordem de 40%. Esse mesmo padrão se estende para as áreas de energia e água.
No caso específico da água, os números variam entre 30% e 65% de desperdício. Em média, as grandes metrópoles brasileiras desperdiçam diariamente 40% da água disponibilizada para a população. E Natal está acompanhando essa tendência. Segundo dados da CAERN, o desperdício de água situa-se entre 40 e 45%. Causa principal: vazamentos na rede de distribuição. As empresas distribuidoras de água no Brasil convivem com esses números há mais de duas décadas. Em termos de Nordeste, a referência tem sido o estado do Ceará, que conseguiu reduzir o desperdício para a casa dos 30%.
Do ponto de vista individual, é sabido que o brasileiro aprecia um banho bem demorado, especialmente os jovens, que às vezes passam de quarenta a cinqüenta minutos debaixo do chuveiro. De vez em quando, alguns desses jovens são criticados por seus pais, que reclamam dizendo coisas do tipo: “menino, acaba logo esse banho, não fique gastando água sem necessidade”. Os mesmos pais que passam mais de uma hora com a mangueira aberta, enquanto lavam o carro da família ou que varrem diariamente a calçada com a famosa “vassoura d’água”. Afirmam os psicólogos e pedagogos que os filhos tomam os seus pais como modelos. Hora de perguntar: Esses pais, gastadores contumazes de água, conseguirão transformar seus filhos em pessoas preocupadas com o desperdício desse líquido tão precioso? Muito pouco provável.
Já que estamos tratando do desperdício doméstico, aproveitamos para apresentar alguns números relacionados com o assunto. São valores médios, que dão uma idéia sobre gastos envolvendo atividades corriqueiras, como por exemplo: torneira pingando: 46 litros por dia; banho de 20 minutos, com chuveiro continuamente ligado: 120 litros; escovar os dentes com a torneira aberta: 18 litros; filete de água de três milímetros, em torneira que apresente vazamento: 8000 litros por dia; lavagem de carro com mangueira: 246 litros.
Considerando que o combate ao desperdício envolve mudança de hábito, é importante que este assunto passe a fazer parte das conversas diárias entre pais e filhos, do debate rotineiro nas salas de aula e de ações de sensibilização continuadas. Só assim poderemos contribuir para a construção de uma sociedade que faça uso otimizado deste bem que a cada ano se torna mais escasso. E como a escassez de água já é uma realidade na maioria dos grandes centros urbanos brasileiros, precisamos exigir a criação de programas permanentes de combate ao desperdício d’água, envolvendo principalmente a mídia televisiva. Não se forma uma consciência de combate ao desperdício, de valorização e preservação da água, utilizando-se de campanhas esporádicas. Necessitamos de uma campanha permanente, com penetração em todos os segmentos da sociedade, para darmos um salto de qualidade nessa área comportamental. Talvez devêssemos lançar a campanha “Desperdício Zero”.

Retirado do livro "Pedagogia da Água - sobre o papel do cidadão
na preservação dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial