O planeta produz água limpa, o homem cuida de sujá-la
"Não existe produção de água nova no planeta Terra". Essa afirmativa, feita pelos cientistas que estudam os recursos hídricos, pode soar estranho aos nossos ouvidos. Na verdade, os pesquisadores que investigam a origem da água no planeta Terra são unânimes em afirmar que praticamente não existe a produção de novos volumes de água pela natureza. Toda a água disponibilizada para uso é reciclada de forma natural como parte de um mecanismo de circulação denominado "ciclo hidrológico".
Nosso planeta dispõe de processos extremamente diversificados para a purificação e renovação das águas que circulam na sua superfície ou que percolam as rochas do subsolo. Os mais conhecidos de todos são os processos de evaporação e transpiração, que respondem pela circulação da água na forma de vapor através da atmosfera que envolve o planeta. Água esta que é devolvida para a superfície através das chuvas. Os terrenos permeáveis, por sua vez, atuam como filtros naturais purificando as águas que vão dar origem aos lençóis subterrâneos. Os manguezais, dentre as suas inúmeras funções, atuam como filtros para as águas continentais que escoam para os oceanos. Nos lagos e nos rios existem plantas e animais, incluindo organismos microscópicos, que atuam como verdadeiros "garis" promovendo a limpeza da água de forma contínua e persistente. É a atuação harmônica de todos esses mecanismos que possibilita a renovação da água no nosso planeta, formando uma rede eficiente de preservação dos mananciais de águas superficiais e subterrâneas.
Infelizmente, o homem moderno, com suas ações predatórias ao meio ambiente, está contribuindo para a destruição desses mecanismos naturais de purificação da água, dentre as quais podemos destacar: o lançamento de esgotos domésticos e industriais nos nossos rios e lagoas; o uso indiscriminado de defensivos agrícolas (herbicidas e pesticidas) que contaminam as águas superficiais e subterrâneas; os desmatamentos irresponsáveis; a destruição dos manguezais ao longo do nosso litoral; a emissão diária de toneladas de agentes poluidores na atmosfera.
Vestígios de medicamentos veterinários e humanos estão sendo detectados com freqüência cada vez maior nos rios e reservatórios de água potável de todos os continentes. Estudo realizado em Berlim, Alemanha, no ano de 1999, revelou a presença de antibióticos, hormônios e produtos utilizados em quimioterapia. Em Londres, foram detectados cerca de 170 medicamentos, nas águas do rio Lea, variando de aspirina até derivados da morfina. Foram encontrados vestígios do antrazine, um tipo de herbicida utilizado na cultura do milho, nas águas minerais engarrafadas e comercializadas na França. Para ficarmos em apenas um exemplo local, a contaminação das águas subterrâneas da Região Metropolitana de Natal, por nitrato, já alcança níveis preocupantes, sendo confirmada por inúmeros estudos. Também já foi constatada a presença de metais pesados nas águas do rio Pitimbu.
Até as águas das chuvas estão sendo contaminadas: pesquisadores suíços comprovaram que as águas das chuvas do continente europeu apresentam níveis extremamente elevados de poluição por pesticidas, e recente estudo conduzido pela UNICAMP revelou a presença de metais pesados nas águas de chuva da região de Campinas/SP. Em síntese, estamos destruindo ou saturando, aos poucos e de forma contínua, todos aqueles mecanismos que a mãe natureza criou para purificar as águas do nosso planeta. As gerações futuras pagarão um preço muito alto para corrigirem esse desvio de comportamento, característico do homem moderno.
Retirado do livro "Pedagogia da Água - Sobre o papel do cidadão na preservação do recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)
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