sábado, 14 de junho de 2008

Água: a revolução de que precisamos

A revolução de que precisamos não necessita de armas ou lideranças inflamadas gritando em praça pública. A revolução de que precisamos não necessita de projetos ultra-sofisticados ou da aplicação de tecnologias de última geração. A revolução de que precisamos não carece de salvadores da pátria ou da interferência de agentes externos. Podemos construir o novo através de atos simples. Podemos mudar a face do nosso país, do nosso estado, da nossa cidade aplicando a filosofia do saber cuidar. A ciência nos ensina que a vida começou na água. A revolução de que precisamos pode também se iniciar com a água: a água que sai das nossas torneiras; a água cristalina que utilizamos para matar a nossa sede; a água boa e tépida que fazemos uso para o nosso asseio diário; a água que respinga nas nossas janelas nos dias de chuva; a água que corre serena, ou vigorosa, pelos nossos rios; a água que retiramos do subsolo através dos poços e cacimbões; a água que nos alimenta; a água que limpa a sujeira por nós produzida.
A revolução de que se faz necessária hoje deve brotar do coração de cada indivíduo, de cada pessoa, de cada cidadão. Ela deve se iniciar através do exercício do ato de perceber. Porque só atuamos de modo consciente sobre as coisas que percebemos, sobre aquilo que prestamos a devida atenção. Precisamos, pois, prestar mais atenção sobre a importância da água nas nossas vidas, sobre o impacto da sua ausência na nossa qualidade de vida. Deveríamos estar nos questionando sempre: como seria a minha vida se eu só pudesse dispor de um terço da água que disponho atualmente? Ou como seria a minha vida sem a disponibilidade de água de boa qualidade?
O passo seguinte, nesse processo de implementação da revolução de que se faz necessária, diz respeito à formação de um conceito de valor para a água nossa de cada dia. Quanto vale o copo d’água que mata a nossa sede? Quanto vale o banho tranqüilo que tomamos no final de cada dia? Qual o valor da água que usamos para, por exemplo, escovar os nossos dentes? Não estamos nos referindo unicamente ao valor monetário deste bem que utilizamos diariamente, mas ao valor como elemento que contribui para a nossa qualidade de vida. Precisamos fazer esse exercício diário, na busca de construir uma escala de valor para a água nas nossas vidas.
Precisamos também trabalhar a nossa relação com a água. É fundamental que passemos de uma relação de mero consumidor para uma relação mais completa. Precisamos construir uma relação amorosa com a água. E a partir do estabelecimento desse “caso de amor”, desencadear as ações para a sua preservação e proteção. Porque só preservamos aquilo que conhecemos e só protegemos aquilo que amamos. Em síntese, os passos necessários para a contribuição efetiva de cada um de nós no processo de construção de um futuro seguro, em termos de disponibilidade do bem água para todos os segmentos sociais, envolvem as três ações referenciadas acima: perceber, valorar e amar. É essa a revolução de que precisamos, uma revolução de fórum íntimo, que viabilizará a grande revolução de que se faz necessária: a proteção total dos mananciais de água do planeta.

Retirado do livro “Pedagogia da Água – Sobre o papel do cidadão na preservação dos recursos hídricos”
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)

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