segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Água virtual: um novo conceito no mercado

Um dos temas mais debatido durante o terceiro Fórum Mundial da Água, realizado no mês de março do ano de 2003, em Kioto (Japão), foi o conceito de “Água Virtual”. Definida como sendo a quantidade de água necessária para produzir um determinado bem, a “água virtual” já está sendo considerada como elemento de valoração de produtos no mercado internacional. Para se ter uma idéia da importância do tema, um dos maiores especialistas no assunto, professor Arjen Hoekstra, do Instituto Internacional de Infra-estrutura Hidráulica e Engenharia Ambiental (IHE), da Holanda, defendeu que "os países levem em consideração o volume de água embutida em suas exportações e importações".
De acordo com levantamentos do Conselho Mundial da Água (CMA), o Brasil está em décimo lugar no ranking dos países exportadores de água virtual, atualmente liderado pelos Estados Unidos. Estima-se que no ano de 1999 o Brasil exportou aproximadamente 100 milhões de m³ de água embutida em produtos. Estimativas atuais indicam que Europa e Estados Unidos consomem diariamente quatro mil litros per capita de água virtual.
Mas como se procede para calcular o volume de “água virtual” associado a um determinado produto? A rigor, é possível determinar o volume de água necessário para produzir um determinado bem, seja ele industrial, seja agrícola, contabilizando as parcelas de água envolvidas em todo o processo produtivo. No caso de um produto agrícola, por exemplo, deve-se contabilizar a água usada desde a preparação do terreno para o plantio, até a elaboração da embalagem do produto comercializado, passando pelas fases de irrigação e colheita. Alguns exemplos de “água virtual” associada a produtos agrícolas e industriais: cada quilo de pão gasta 150 litros de água para ser produzido; para se produzir um quilo de arroz consome-se em média 1500 litros de água; cada quilo de carne bovina gasta 13.000 litros de água; cinco mil chips de 32MB, cada um pesando 2g, consomem 16 mil litros de água, no total, para serem fabricados.
Além dos aspectos relacionados com o comércio internacional de produtos agrícolas e industriais, existe um componente ambiental muito forte quando se trabalha com o conceito de “água virtual”. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, segundo Daniel Zimmer, diretor do Conselho Mundial da Água, “um grande importador de água virtual poderá indiretamente provocar desastres em países pobres, exportadores de alimentos, onde a gestão ambiental dos recursos naturais seja deficiente”. Portanto, os impactos ambientais causados pela agricultura já estão sendo considerados nas negociações de compra e venda de produtos agrícolas. A título de ilustração, observa-se que já existem estimativas sobre o comércio internacional de água virtual. Durante o III fórum Mundial da Água, por exemplo, foi divulgado que as trocas internacionais de água, na forma de alimentos, correspondem a 20% do consumo hídrico do planeta.
Se existem planos para tornar o Rio Grande do Norte um exportador de produtos agrícolas de porte significativo, é importante levarmos em conta os volumes de “água virtual” que estaremos exportando no futuro juntamente com as nossas frutas, verduras e grãos. Cabendo ressaltar que a nossa capacidade produtiva estará intimamente relacionada com a disponibilidade de água para irrigação e que os nossos mananciais de água potável precisarão ser bem gerenciados para garantirmos uma produção ambientalmente sustentada. Sem a preservação dos mananciais de água potável o futuro da nossa agricultura estará definitivamente comprometido.

Retirado do livro "Pedagogia da Água - Sobre o papel do cidadão na preservaçãos dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)

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