domingo, 21 de dezembro de 2008

Água: das relações possíveis

Somos seres relacionais. Desde o momento em que nos encontramos no útero materno até o instante da nossa morte, nos relacionamos com as pessoas e as coisas que nos cercam. E nesse processo de interação com o mundo, desenvolvemos (ou atrofiamos) a nossa capacidade de percepção sobre o universo do qual fazemos parte. Da percepção consciente, nasce o nosso senso crítico e a partir daí nos posicionamos diante das coisas, diante dos elementos que afetam ou possam afetar a nossa qualidade de vida. Passamos então a atuar como seres políticos.
No campo do relacionamento, dá-se normalmente ênfase para as “relações humanas”. Tanto a psicologia como a sociologia buscam catalogar, explicar ou mesmo avaliar os reflexos das relações entre pessoas e comunidades no comportamento individual e grupal. Nos últimos anos têm predominado as discussões sobre as “relações econômicas”, consideradas peças-chave para o capitalismo vigente. Contudo, constatamos que muito pouco tem sido feito para aprofundarmos as nossas reflexões sobre os tipos de relacionamentos que mantemos com o meio físico, particularmente, com os recursos hídricos. Apesar do esforço gigantesco dos ambientalistas, a maioria das pessoas passa pela vida sem refletir sobre a maneira como se relaciona com algo tão fundamental para o bem-estar de todos, como é o caso da água.
Cabe, pois, perguntarmos: quais os tipos de relacionamentos que podemos manter com o meio ambiente? Ou de modo mais específico: como nos relacionamos com a água? Seria um relacionamento saudável, envolvendo sentimentos de respeito, atitudes positivas, ações responsáveis e espírito colaborativo? Ou seria um relacionamento não construtivo, envolvendo sentimentos de desrespeito, atitudes negativas, ações irresponsáveis e espírito não colaborativo?
Como nos posicionamos no dia-a-dia, à medida que intensificamos as relações de atores e receptores, nesse universo de interação constante e permanente? Nosso convívio com o meio ambiente se dá em clima de harmonia ou desarmonia, de comprometimento ou de indiferença, de ódio ou de amor? Ou será que adotamos apenas uma postura contemplativa diante da bela mãe natureza, fechando os olhos para as suas fraquezas, para as agressões que fazemos a ela? Nos sentimos parceiros ou nos consideramos donos dos patrimônios naturais?
Os pais costumam investir no futuro de seus filhos, oferecendo condições para um desenvolvimento físico e intelectual sadio e profícuo. Os filhos, reconhecendo tal esforço, retribuem com vontade e dedicação. Dessa parceria salutar surgem homens e mulheres habilitados para conduzirem de modo seguro os seus destinos. Dos bons relacionamentos, dentro e fora do seio familiar, é que são moldados os cidadãos justos e éticos. Na construção da cidadania, precisamos reservar espaço para reflexões sobre a forma como nos relacionamos com o meio ambiente. E nessa reflexão necessitamos reservar um tempo especial para avaliarmos as relações mantidas com água. Nunca é demais lembrar: sem água não existe futuro digno.
Retirado do livro "Pegagogia da água - Sobre o papel
do cidadão na preservação dos recursos hídricos"
Autor: João de Deus Souto Filho (Natal-RN)

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