Os rios e as cidades
Os rios estão nas raízes da maioria dos centros urbanos. Não por acaso. Eles são as fontes milagrosas que viabilizam o desenvolvimento da quase totalidade dos núcleos sociais por nós conhecidos. Paris, a mais charmosa metrópole européia, nasceu e se desenvolveu às margens do Sena. Londres, o coração da nobreza inglesa, é uma cidade alimentada pelo rio Tâmisa. Roma, centro político e cultural da Itália, tem a sua história ligada ao rio Tibre. Nova Deli, capital da Índia milenar, se ergueu às margens do sagrado rio Ganges. São Paulo, a maior metrópole da América Latina, nasceu às margens do Rio Tietê. Recife, a nossa Veneza dos trópicos, tem a cara e o cheiro dos irmãos de água, Capibaribe e Beberibe. E Natal, a nossa vila mais sagrada, germinou nas margens do Potengi.
Sem sombra de dúvida, nós, o supra-sumo do mundo civilizado, devemos muito a esses cursos d´água. E o que damos em troca dessas verdadeiras dádivas recebidas da mãe Terra? Como filhos ingratos, nós presenteamos os rios das nossas cidades com o que temos de pior: os nossos dejetos, domésticos e industriais, o lixo podre gerado a cada dia, o lixo imundo e pestilento gerado a cada segundo. E assim matamos os Tietês, os Capibaribes, os Ganges, os Senas e os Tâmisas da vida. É o mesmo que estamos fazendo com o nosso majestoso Potengi. Hoje, a cidade do Natal despeja, nas águas do Potengi, sem nenhum escrúpulo ou vergonha, a quase totalidade dos esgotos domésticos recolhidos. Esgoto “in natura”, ou seja, sem nenhuma forma de tratamento. Com isso, morre o rio e, junto com ele, o mangue, berço de grande parte da vida marinha do nosso planeta.
E assim continuamos tocando as nossas vidas, como se nada estivesse acontecendo. Quem sabe, no futuro, apareça algum culpado nessa história trágica. E muitos homens de bem declararão solenemente: - Eu não tenho nada com isso!
Retirado do livro "Pedagogia da Água - sobre o papel do cidadão na preservação dos recursos hídricos". Autor: João de Deus Souto Filho
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