terça-feira, 20 de março de 2012

O mostro e o verme

A revolução industrial, que serviu de base para o desenvolvimento ocorrido no século XX, gerou um monstro que precisa ser controlado pela sociedade do terceiro milênio. Esse horrendo ser, de aspecto grotesco e múltiplas faces, é a enorme capacidade que criamos de degradar o meio ambiente. Um exemplo é a grande quantidade de esgoto doméstico gerado pelos centros urbanos que na sua quase totalidade é despejado em corpos de água (rios, lagoas, mares), sem nenhum tipo de tratamento. Na área industrial, as toneladas de poluentes jogados na atmosfera e descartados diariamente na superfície do planeta são contabilizadas na escala de centenas de milhões.
O homem moderno é um produtor contumaz de agentes agressores do meio ambiente. Algumas áreas no planeta estão irremediavelmente inutilizadas, impossibilitando o desenvolvimento da vida; outras estão em processo avançado de degradação. Um exemplo disso são os rios que atravessam as grandes metrópoles; quase todos estão mortos ou apresentam elevados níveis de contaminação. Existe tecnologia para o tratamento de todos os tipos de poluição, contudo os custos envolvidos não despertam o interesse de empresários e dirigentes de órgãos públicos que, quase sempre, estão mais interessados em maximizar os seus lucros ou em transferir a resolução dos problemas para o futuro. Isso resulta, com freqüência, no agravamento da situação e no desencadeamento de efeitos indesejáveis para áreas adjacentes, ampliando a abrangência da agressão ambiental.
Quanto tempo mais dispomos pela frente, alimentando esse monstro horrendo, iludidos com a falsa idéia de que ele jamais nos alcançará? Ver os nossos mananciais de água sendo comprometidos; assistir à devastação das nossas coberturas vegetais; acompanhar a implantação de obras em áreas ambientalmente sensíveis, sem que os cuidados mínimos de preservação sejam obedecidos. Presenciar tudo isso com indiferença, é nos colocarmos na condição de vermes, pouco merecedores do dom da vida. Ou mudamos de postura, ou receberemos de volta tudo aquilo de ruim que despejamos por sobre o corpo desse enorme organismo que alguns chamam de Gaia, dessa pequena esfera que flutua na imensidão do espaço e que batizamos com o nome de Terra. Pois, tenhamos consciência ou não desse fato, queiramos ou não, somos parte dele.
Diante das forças da natureza, somos tão insignificantes quanto o mais simples dos organismos unicelulares. E a nossa pequenez só é sentida quando buscamos ar para respirar e não encontramos, quando imploramos por um mísero copo d'água à margem de um grande lago de águas mortas, quando somos derrubados dos pedestais onde nos colocamos ao sentirmos falta das coisas mais banais, que dantes desprezávamos, como por exemplo o tremular das folhas de um coqueiral. Os elementos da natureza, principalmente aqueles que nos possibilita a vida, são muito mais poderosos do que a nossa arrogância, que nos leva a acreditar que somos seres superiores.

Retirado do livro "Pedagogia da Água"
Autor: João de Deus Souto Filho

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