O mundo moderno é um mundo melhor?
Avaliando do ponto de vista tecnológico, não temos muitas dúvidas ao afirmarmos que as facilidades existentes nos dias atuais são muito maiores que no tempo dos nossos pais e dos nossos avós. Em outras palavras, temos hoje melhores condições de vida que os nossos antepassados. Se tomarmos como referência a época da revolução industrial, dispomos atualmente de uma gigantesca gama de facilidades que contribuem significativamente para a melhoria das condições de moradia, de transporte e de conforto da população. O mesmo ocorrendo nas áreas de saúde e educação, bem como em termos de amparos legais. Dispomos, por exemplo, de um sistema de leis que oferece ao cidadão muito mais garantias do que no passado, incluindo a proteção às minorias.
A sociedade agrícola que dominou os séculos XVI e XVII cedeu lugar à sociedade industrial dos séculos XVIII, XIX e XX, que por sua vez está cedendo espaço, nesta virada de milênio, para a sociedade da informação. Hoje, os avanços tecnológicos se processam num ritmo inimaginável há quatro décadas atrás. A ciência moderna se desenvolve numa velocidade espantosa, e as conquistas obtidas são compartilhas quase que em tempo real por todas as comunidades científicas do planeta.
Tudo parece estar caminhando na direção certa, em termos de desenvolvimento, não fossem alguns sinais de que algumas estratégias adotadas pelo ser humano estão causando impactos extremamente danosos para a saúde do planeta, colocando em risco a preservação das gerações futuras. Na ânsia de ocupar os melhores espaços disponíveis na superfície da Terra, o ser humano promoveu uma verdadeira devastação dos recursos naturais, causando desequilíbrios significativos no ecossistema planetário: (a) na Europa, Ásia e América do Norte, promoveu-se a dizimação de quase todas as florestas primitivas, e o pouco que resta está em processo de degradação; (b) nos grandes centros urbanos, quase cem por cento dos cursos d’água estão comprometidos em função da poluição doméstica e industrial; (c) o efeito estufa é hoje uma preocupação mundial, resultado do descontrole na emissão de gases danosos à atmosfera do planeta; (d) o êxodo rural é uma realidade na maioria dos países em desenvolvimento, o que compromete significativamente a qualidade de vida nas grandes metrópoles, envolvendo problemas de violência, saúde, habitação e transporte.
Em síntese, os avanços tecnológicos não têm dado conta dessa ocupação desordenada, desse desequilíbrio causado pela ganância humana. E tal comportamento deve ser avaliado considerando o contexto do “fazer ético”, uma vez que as ações desenvolvidas pelas empresas ou corporações têm no seu nascedouro o “fazer individual”, seja na área técnica, seja na gerencial. O profissional cidadão tem claro na sua mente que toda ação executada, independente da sua dimensão ou abrangência, é resultado de uma decisão individual. Em outras palavras, se algo foi feito é porque alguém fez (o seu executor direto) ou porque alguém mandou fazer (o administrador, o governante, o empresário ou o representante de um grupo de pessoas). Quando o dono (ou administrador) de uma indústria decide descartar os efluentes industriais da sua unidade de produção diretamente em um determinado corpo d’água (rio ou lagoa), sem nenhum tipo de tratamento, também é uma decisão individual. Quando um engenheiro ou projetista faz opção por um determinado tipo de filtro a ser colocado na chaminé de uma fábrica, menos eficiente e mais barato, também está tomando uma decisão individual. Mesmo que esse trabalho esteja sendo realizado por uma equipe técnica, sempre haverá um líder ou responsável técnico que dará a palavra final. Dentro desse contexto, somos co-responsáveis por todos os impactos que uma determinada obra possa causar, tanto às comunidades quanto ao meio ambiente. Se almejamos construir um mundo melhor, se acreditamos na possibilidade de melhorar a qualidade de vida no planeta, é fundamental assumirmos que somos todos responsáveis.
Retirado do livro "Pedagogia da Água"
Autor: João de Deus Souto Filho
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