quarta-feira, 18 de abril de 2012

A cidade dos meus sonhos

O sonho da cidade ideal é sonhado por muitos. Este sonho, que é vontade coletiva, faz parte dessa grande teia da vida, onde a urbe transforma-se em organismo que pulsa, que pensa, que almeja o equilíbrio. Transformar sonho em realidade não é tarefa fácil. Exige vontade, esforço continuado e acima de tudo perseverança. Um traço que marca o perfil dos vencedores, particularmente daqueles que ousaram transformar a sociedade para melhor, é a perseverança. E só perseveram aqueles que acreditam em um ideal, aqueles que crêem no poder transformador do ser humano. Portanto, se acreditamos na possibilidade de construção da cidade dos nossos sonhos, precisamos exercitar a perseverança que, em termos práticos, significa trabalhar permanentemente para a efetivação desse ideal.

O primeiro passo, nessa longa caminhada, envolve a formação de uma consciência coletiva de valorização do espaço urbano, de valorização da cidade como território sagrado onde podemos garantir a nossa qualidade de vida. Nessa etapa, é fundamental a participação de todos aqueles que são detentores de conhecimentos sobre os elementos que compõem o “Sistema Cidade”: dos geólogos, que conhecem o substrato rochoso sobre o qual a cidade se implanta; dos arquitetos e engenheiros urbanísticos, que projetam a forma de ocupação do solo e as artérias de escoamento da cidade; dos profissionais sanitaristas (médicos e engenheiros), que esboçam e implementam os sistemas de “higiene” da cidade; dos profissionais que cuidam do abastecimento de água, elemento crucial para a sobrevivência da cidade; dos engenheiros elétricos, que desenham e colocam em funcionamento as redes elétricas que abastecem a cidade de energia elétrica; enfim, de todos os profissionais que dão suporte à chamada infraestrutura urbana.

A idéia básica é que nesta etapa de conscientização o conhecimento especializado alcance as diferentes camadas da população. E para que isso ocorra, necessita-se criar mecanismos de divulgação do saber especializado sobre o “Sistema Cidade”. O povo precisa saber, por exemplo, o seu papel como agente de preservação dos mananciais de água potável; a população precisa ter consciência da necessidade de preservação das áreas verdes da Cidade; os empresários da construção civil devem ser bem informados sobre as vulnerabilidades do ambiente urbano. Para tal, faz-se necessário envolver os profissionais de comunicação, a mídia local, as universidades, a secretaria de educação, sob a coordenação do poder público, numa campanha permanente de educação do cidadão para os cuidados que a Cidade necessita. Esse projeto educativo deve ter visão de longo prazo, deve ter garantias legais e institucionais de continuidade.

O passo seguinte diz respeito à construção de um novo paradigma participativo. O cidadão precisa participar mais do processo de construção (ou reconstrução) da Cidade. O cidadão, após tomar consciência do seu papel como agente de mudança, estará mais presente nas ações de melhorias da Cidade, deixando de delegar exclusivamente este trabalho para os administradores públicos, que historicamente não têm desempenhado bem esse papel.

Precisamos ser mais exigentes com respeito à ação do Estado nos destinos da Cidade. Órgãos como Conselho Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente, Conselho Municipal de Saneamento Básico; Conselho Municipal de Saúde; Conselho Estadual de Meio Ambiente; Conselho Estadual de Recursos Hídricos, precisam ter representantes legítimos dos diferentes segmentos da sociedade, comprometidos com desenvolvimento sustentado da Cidade. Quando abrimos mão dessa representatividade, entregamos os destinos da administração pública e da aplicação dos recursos existentes nas mãos de pessoas que muitas vezes não estão interessadas no bem coletivo.

O cidadão consciente precisa dar um salto de qualidade no seu envolvimento com os problemas da Cidade, precisa deixar de conjugar exclusivamente o verbo “reclamar”, passando a exercitar mais intensamente o verbo “participar”. Participação é, de fato, a palavra chave. Porém deve ser uma participação ativa, vigorosa, diferente daquela que muitos acham que já exercitam, que é a participação como “ouvintes”. Devemos participar como atores, como atores principais, nessa árdua tarefa de construir uma cidade melhor, de construir a cidade dos nossos sonhos.

Retirado do livro "Pedagogia da Água"

Autor: João de Deus Souto Filho

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