terça-feira, 10 de abril de 2012

O sistema que a cidade é

Quem estuda seriamente a questão da sustentabilidade afirma de modo categórico: o planeta Terra deve ser considerado como um sistema. Sabe-se que tudo está interligado nesse mega-sistema planetário. A litosfera está ligada à hidrosfera, que por sua vez está ligada à atmosfera, e esta se liga também à litosfera. Matéria sólida, líquida e gasosa se intercambia em um fluxo permanente, o que mantém esse sistema vivo: as poeiras do Saara alcançam as praças de Paris, após viajarem milhares de quilômetros; as águas dos pólos chegam às regiões equatoriais através das correntes marinhas; as emanações vulcânicas trazem para a superfície toneladas de materiais provenientes do interior da Terra; as variações de temperatura nas águas do Pacífico provocam alterações climáticas em toda a costa leste da América do Sul; a molécula d’água que hoje se encontra no interior de uma geleira no Pólo Norte já fez parte, no passado, da constituição da folha de uma castanheira secular cravada no meio da Floresta Amazônica. A biosfera surge, pois, dessa interação permanente, formando a teia da vida.

As cidades, territórios onde se concentra a população urbana do planeta, também constituem sistemas complexos. E, como tal, devem ser consideradas pelos administradores públicos, pelos profissionais que nelas atuam, pelos empreendedores que aplicam seus recursos para gerarem riqueza, pelos cidadãos que ocupam os seus espaços e que formam o chamado contingente populacional urbano. Os projetos de urbanização, as obras de esgotamento sanitário, os planos de drenagem, os projetos de captação e distribuição de água, enfim, toda e qualquer interferência feita no perímetro urbano e sua circunvizinhança deve levar em consideração as características desse “Sistema”.

Quando analisamos os problemas atualmente verificados nos centros urbanos, que interferem na qualidade de vida da população, observamos que eles são conseqüência do desequilíbrio causado pela ação humana no “Sistema Cidade”. Vejamos alguns exemplos que ilustram essa afirmação: os alagamentos constantes verificados em extensas áreas da cidade são reflexos da impermeabilização do solo; os riscos de desabamentos nas áreas de encostas refletem o desmatamento descontrolado e a ocupação desordenada do solo; a poluição dos rios, das lagoas e dos lençóis subterrâneos deve-se à descarga descontrolada de agentes contaminantes nos corpos d’água e no solo; o superaquecimento da cidade é decorrente das barreiras arquitetônicas que alteram o fluxo natural dos ventos.

A saúde da cidade só pode ser recuperada se pensarmos os núcleos urbanos como “Sistemas”. Faz-se necessária a recuperação do equilíbrio desses sistemas, para o bem dos povos das cidades. A ocupação de regiões como o San Vale e margens do rio Pitimbu, como reflexo do crescimento da nossa cidade, deve levar em conta os desequilíbrios que podem ser gerados no “Sistema Cidade do Natal”. Essas duas regiões caracterizam-se por estarem ligadas intimamente com a questão da preservação dos nossos mananciais de águas superficiais e subterrâneos. Ver a cidade como um “sistema” é diferente de olhar a cidade como apenas um território ocupado.

Retirado do livro "Pedagogia da Água"

Autor: João de Deus Souto Filho

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