Saber cuidar: alterando o cotidiano para melhor
Participar da construção de um mundo melhor. Quem não gostaria de dar a
sua contribuição? A busca da felicidade pode ser traduzida como a busca pelo
bem-estar. E o estar bem, dentre outras coisas, envolve relações harmônicas,
equilibradas, com o meio físico em que vivemos. A cidade é o nicho ecológico de todos
nós, seres urbícolas. O campo é o nicho ecológico da nossa população
rural.
Preocupado
com o exercício saudável da cidadania, Leonardo Boff, no livro “Saber cuidar:
ética do humano, compaixão pela Terra”, alerta-nos para o fato de que é preciso
tomarmos consciência do nosso papel no planeta como seres dotados de
inteligência e razão. Para ele, é preciso que abramos os nossos corações e
mentes com o objetivo de resgatar valores perdidos ao longo da história humana,
que serão a chave para a manutenção da qualidade de vida nesse que é o único
espaço disponível para construirmos os nossos sonhos e os das gerações futuras.
E para isso é necessário que coloquemos em prática a filosofia do "Saber
Cuidar".
Da
mesma forma como cuidamos das nossas famílias, precisamos saber cuidar da nossa
casa, do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso estado, do nosso país e, por
fim, do nosso planeta. Da mesma forma
que atentamos para as nossas relações familiares, é preciso atentarmos
para as nossas relações com a sociedade, com os meios produtivos, com as
autoridades que administram os bens públicos, com os órgãos que nos representam
e com o meio natural em que fixamos as nossas raízes e edificamos as nossas
obras.
Em
cada uma dessas diferentes escalas, precisamos assumir as nossas
responsabilidades, "cuidando" daquilo que nos diz respeito e que diz
respeito aos nossos semelhantes. Como seres sociais, devemos buscar a nossa
felicidade sem que para isso comprometamos a felicidade dos outros. E como
usuários dos bens naturais, necessitamos praticar o ato de usar sem degradar
aquilo que a natureza nos disponibiliza. São esses os fundamentos da ética, ou
do fazer e agir eticamente. Fora desses princípios fundamentais, o que existe é
retórica.
Para aqueles que acreditam na possibilidade
de atuar como agente de transformação da sociedade, fazendo da ética um
exercício cotidiano, deixamos este pequeno fragmento, retirado de Leonardo
Boff, para reflexão : "Diante do rio Amazonas ficamos totalmente
fascinados, fazemos a experiência da majestade. Ao penetrar na floresta,
contemplamos sua inigualável biodiversidade e ficamos aterrados diante da
imensidão de árvores, de águas, de animais e de vozes de todos os timbres,
fazemos a experiência da grandeza. Diante dessa grandeza, sentimo-nos um bicho
frágil e insignificante irrompendo em nós o temor e o respeito silencioso,
fazemos a experiência da limitação e da ameaça"
Se
nos propomos a mudar o estado das coisas, precisamos correr riscos e precisamos
também retirar do fundo do baú aquela gana, aquela raça que tínhamos na nossa
juventude. Precisamos mais, ainda: é fundamental que nos ergamos das nossas
confortáveis poltronas, que abramos as portas dos nossos palácios, e que
coloquemos o pé na estrada, na busca da grande utopia, que só depende de nós. O
nosso fazer cotidiano é a herança que deixamos para as gerações futuras.
O
mundo que projetamos como ideal não é feito de boas intenções, ele é construído
tijolo a tijolo, ele é produto das nossas ações cotidianas. Não precisamos
realizar atos heróicos ou mesmo nos distanciarmos dos nossos afazeres diários
para contribuirmos de forma efetiva com o processo de melhoria da qualidade de
vida ou de aperfeiçoamento das instituições. O pouco que fizermos já será de
grande valia. Pior é esperar que algum salvador da pátria o faça por nós.
Retirado do livro "Pedagogia da Água"
Autor: João de Deus Souto Filho
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