domingo, 6 de maio de 2012

Rios de águas tóxicas


            O Brasil está acordando para uma realidade alarmante. Os seus principais rios, do extremo norte amazônico às fronteiras do Rio Grande do Sul com o Uruguai, apresentam elevados níveis de contaminação por substâncias tóxicas. Esse processo de degradação dos corpos d’água já faz parte da cultura do brasileiro. Tanto para os administradores públicos como para os empresários da indústria e agropecuária, bem como para o cidadão comum, existe um bordão que já virou costume (um mau costume por sinal): o que não presta e é sujo joga no rio. Como, por exemplo, ocorre com os esgotos domésticos e industriais. 
             É bem verdade que a natureza tem uma capacidade depuradora considerável, mas também já é do conhecimento geral que essa capacidade depuradora tem limites. E os rios brasileiros, particularmente aqueles situados próximos dos núcleos urbanos, já alcançaram esse limite há muito tempo. Nós, humanos, poluímos os nossos rios numa velocidade que a natureza não consegue mais se autodepurar. Estudos realizados nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro constataram que há metais pesados e outros produtos tóxicos sobrando nos rios do sudeste do país, todos sujos por esgoto urbano, rejeitos industriais e agrotóxicos. Existe grande quantidade de cobre, mercúrio, zinco, chumbo, arsênio e fenóis nos rios brasileiros. Isso sem contar os coliformes fecais e o material sólido que são vistos diariamente “passeando” pelas águas de rios, riachos e lagoas.
                  Os reflexos dessas contaminações na saúde também são por demais conhecidos. Sabe-se, por exemplo, que altos índices de mercúrio podem matar em dez dias ou causar danos irreversíveis ao cérebro, lesões renais e distúrbios na fala, visão e tato. Por sua vez, o arsênio causa câncer de pele e fígado; o zinco pode causar problemas pulmonares; e o cádmio, danos à medula óssea. Sem falar, é claro, dos distúrbios provocados pelos coliformes fecais e outras bactérias presentes nas águas contaminadas por esgoto doméstico.
   No caso específico da gestão dos recursos hídricos, que envolve, dentre outras atribuições, o controle da qualidade da água dos mananciais, não existe ainda implantado, na maioria das cidades brasileiras, um sistema permanente de monitoramento da qualidade de água dos nossos rios e lagoas. Esta é uma necessidade premente se desejamos construir um futuro tranqüilo, no que se refere à garantia de reservas de água potável de boa qualidade, para as próximas gerações.

Retirado do livro "Pedagogia da Água"
Autor: João de Deus Souto Filho

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