sábado, 18 de julho de 2015

A água de Natal corre o risco de acabar: renovando um alerta já feito

           O primeiro alerta foi feito no ano de 2000. Renovo agora esse alerta, visto que a situação se agravou ainda mais para os habitantes da região metropolitana de Natal.

            "De que adianta termos água disponível para o consumo se não podemos utilizá-la? É isso o que está para acontecer em Natal. A cada dia que passa aumenta o grau de contaminação dos nossos mananciais de águas superficiais e subterrâneas. Como é do conhecimento geral, a quase totalidade dos rios que cortam a área metropolitana de Natal está com suas águas poluídas, tornando-se impróprias para o consumo humano. Também é do conhecimento das autoridades públicas, municipais e estaduais, que o grau de contaminação das nossas águas subterrâneas está alcançando níveis alarmantes. Fato extremamente grave, uma vez que 70% da água disponibilizada para a população natalense é proveniente dos lençóis de água subterrânea existentes no subsolo da nossa cidade. Estudos realizados pela UFRN e pela própria CAERN comprovam que, em bairros como Alecrim e Tirol, os níveis de contaminação da água por nitrato, substância que, dentre outras doenças, provoca o câncer estomacal, já alcança valores da ordem de 200 mg/l, quase cinco vezes maiores que o limite estabelecido pela Organização Mundial de Saúde, que é de 45 mg/l.

            É sabido que a crise da água nas grandes metrópoles brasileiras tem relação com as seguintes questões: (1) a poluição dos rios da região; (2) a ocupação desordenada das áreas de mananciais; (3) o desmatamento nas áreas de nascentes e de mananciais; (4) a impermeabilização do solo nas regiões de mananciais; (5) o despejo de esgoto clandestino nos mananciais de água; e (6) o desperdício da água disponibilizada para a população.

            Mas qual a relação do problema das grandes metrópoles brasileiras com a nossa cidade, uma vez que Natal tem uma realidade aparentemente distinta? Nesse caso específico, o que está ocorrendo em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro é semelhante ao que ocorre hoje na área metropolitana de Natal. Vejamos, pois, as semelhanças:
(1) os rios que cortam a área metropolitana de Natal já apresentam alto grau de poluição, o que implica dizer que as águas desses rios são impróprias para o consumo humano;
(2) a população de Natal conhece de perto o problema da ocupação desordenada de áreas críticas para a preservação dos nossos mananciais de águas superficiais e subterrâneas. Sem fazer referência ao fato de que o lixão de Natal está situado sobre uma região de dunas, o que contribui significativamente para a contaminação dos nossos aqüíferos;
(3) não existe nenhum controle sério sob as áreas de nascentes dos nossos rios e nas proximidades das nossas lagoas, visando à preservação da qualidade dos nossos recursos de águas superficiais;
(4) nas áreas mais populosas da cidade, a impermeabilização do solo é quase que total. Isso significa dizer que as águas das chuvas estão sendo impossibilitadas de penetrarem no solo para promoverem a recarga dos nossos lençóis subterrâneos e a renovação das águas existentes no aqüífero situado abaixo da cidade;
(5) todo o esgoto coletado pela CAERN é jogado nas águas do Rio Potengi sem nenhum tipo de tratamento. Aliado a isso, agrava-se o fato de apenas 25% da cidade dispor de sistema de saneamento básico instalado. O que significa dizer que 75% do esgoto doméstico está contribuindo para a contaminação direta das nossas águas subterrâneas. As fossas e sumidouros colocam os efluentes domésticos (esgoto) em contato direto com as nossas águas subterrâneas;
6) quanto ao desperdício, estima-se que 40% da água disponibilizada para a população é desperdiçada. E, mesmo sabendo disso, tanto os órgãos públicos como a mídia local nunca se preocuparam em promover  uma campanha permanente de esclarecimento voltada para a valorização da nossa água. O que vemos em Natal são apenas iniciativas esporádicas que são veiculadas em períodos de crise. O problema do desperdício de água só pode ser resolvido através da formação de uma consciência de preservação, que passa necessariamente por um trabalho sério e permanente de esclarecimento da população. É importante ressaltar que um dos segmentos responsáveis pelo maior percentual de desperdício corresponde à classe mais esclarecida da população, incluindo a classe política e a classe empresarial.

Portanto existe, sim, muita semelhança entre o que está ocorrendo nas grandes metrópoles brasileiras e o que estamos vivenciando em Natal. O problema é muito grave e ações sérias precisam ser tomadas com urgência para que possamos iniciar imediatamente o trabalho de recuperação da qualidade da água na nossa cidade. Esse não é um trabalho que deva ser conduzido apenas pelos órgãos públicos, pela prefeitura, pela CAERN ou pela Secretaria de Recursos Hídricos, por exemplo. É uma empreitada da qual deve participar toda a população natalense, em especial a classe empresarial e a mídia, que podem contribuir para a criação de um programa permanente de esclarecimento de todos os segmentos da sociedade para a valorização e preservação da água. Essa é uma questão extremamente crítica para a manutenção da qualidade de vida na nossa cidade. Não podemos nos omitir dessa responsabilidade social. Mais do que uma questão de saúde pública, esta é uma questão de cidadania."         

Retirado e adaptado do livro "Pedagogia da Água".
Autor: João de Deus Souto Filho

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